sábado, 12 de janeiro de 2008

TESTEMUNHAS DA RESSURREIÇÃO - MARIA MADALENA

Testemunhas da Ressurreição
Maria Madalena
Mateus 27.56 e 61; 28.1-10, Marcos 16.1
Lucas 8.2; 24.10, João 19.25; 20.1-2; 20.11-28

Meu nome é Maria. Como havia muitas Marias no grupo de Jesus, recebi um segundo nome, que indica o meu lugar de origem. Minha cidade natal é Magdala. Aliás, é uma povoação, situada na margem ocidental do Mar da Galiléia. Assim, de Maria de Magdala, passei a Maria Magdalena, ou simplesmente Madalena.
Sou a discípula em quem mais se fala, nos Evangelhos. Todos, Mateus, Marcos, Lucas e João, se referem a mim. É que eu era bem conhecida no grupo. E muito estimada também. Eu era a prova viva e sempre presente do poder e da autoridade de Jesus.
Mas quero começar meu depoimento desde antes de conhecer o meu Mestre e Senhor.
Tive uma vida normal, de pessoa normal, vivendo em uma pequena cidade. Ainda jovem, comecei a apresentar manifestações de espíritos. Primeiro, veio um de adivinhação. Eu sabia que era proibido em nossa lei, mas não reagi, porque passei a despertar a atenção dos meus conterrâneos. (Deuteronômio 18.9-13).
Depois veio um de previsão do futuro. Ninguém podia conferir, mas todos acreditavam. E eu também não reagi, porque me transformei na atração do lugar.
Mais um pouco, e me comunicava com os mortos. Ou as pessoas viam assim. Vinham de longe para me ver em ação, tomada pelos espíritos. Ou demônios, que é a mesma coisa. Aprendi isso depois, com Jesus. Ele não dizia só espíritos. Sempre acrescentava imundos.
Como eu permitia que eles me usassem, cada vez era maior o seu número. Sete demônios passaram a me dominar e a me anular. Perdi a identidade. Perdi o equilíbrio emocional. Perdi a saúde mental. Fiquei totalmente transtornada. As pessoas se afastaram de mim. Algumas tinham medo, outras riam da minha situação.
Minha vida era um inferno. Agredia aos outros e a mim mesma. Quantas vezes pensei em suicídio! Eram eles querendo me destruir. Se eu pudesse me libertar... Mas não tinha mais forças para isso. Estava completamente dominada. Minha alienação da realidade era tamanha, que nem lembro se alguém me levou a Jesus, ou se Ele veio onde eu estava. Sei que, quando me viu, teve compaixão de mim. Expulsou os demônios e me libertou. Foi como se eu nascesse de novo.
Ninguém tem idéia da minha felicidade, da minha alegria. E da minha gratidão a Jesus. Eu não precisava que explicassem quem Ele era. Eu sabia, eu sentia que estava diante do Filho de Deus!
Pensei que a única maneira de agradecer seria segui-lo, como Suzana, Joana, Maria – mãe de Tiago e tantas outras que o acompanhavam desde a Galiléia. (Lucas 8.1-3). Queria estar perto dele, para minha proteção. Queria caminhar ao seu lado, para que soubessem que eu não era mais a louca de Magdala, mas a Maria Madalena, discípula do Mestre de Nazaré. Queria contar aos outros que o seu poder me libertou, me transformou.
O ministério de Jesus foi um período difícil, de sacrifício mesmo. Sempre andando, pela Galiléia, pela Samaria, pela Judéia. Mas foi também, um período muito abençoado. Éramos como crianças, crescendo em conhecimento e em sabedoria. E a graça de Deus estava sobre nós. Jesus abria nossos olhos para as carências das pessoas e dizia que precisávamos supri-las. E que o amor ao próximo deveria ser dimensão do nosso amor a Deus.
Muito tempo depois, começaram a registrar os ditos e os sinais de Jesus. Pedro através de Marcos, Mateus e suas comunidades, Lucas recolhendo o que cada um de nós lembrava, João e tantos outros. Fiquei feliz com as referências às mulheres da Galiléia e, principalmente a mim, no final de cada Evangelho. Muito mais poderia ter sido escrito.
Nós repetimos tão depressa: foi crucificado, morto e sepultado. Mas como custou a passar... Quanto sofrimento para Ele e para nós. Que fazer, vendo o nosso amigo em agonia? Logo Ele, que só fez o bem? Que dizer a Maria, sua mãe, vivendo a profecia de Simeão, sentindo uma espada traspassando a própria alma? (Lucas 2.35). Nada a dizer. Apenas abraçar e chorar juntas. Misturar as lágrimas como havíamos misturado as esperanças.
E como perceber a mão de Deus nos acontecimentos? Como identificar a sua graça, o seu amor? Difícil sentir Deus no sofrimento, não é? Parece que Ele nos desamparou, parece que nos abandonou. Mas João viu, o querido João, tão jovem e tão firme ao nosso lado. Ele, que a tudo assistiu, foi capaz de ver além da cruz. Ele, que a todas confortou, foi capaz de ver além da dor. Ele, que conservou a esperança, foi capaz de escrever, mais tarde:
“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).
Ouro puro, riqueza, essa afirmação de João!
E, agora, o episódio da Ressurreição de Jesus. Quantas vezes anunciei! Quantas vezes confirmei! Quanta emoção, em cada vez! São tantos os detalhes e é tão importante lembrá-los...
Primeiro, a espera de que passasse a comemoração da Páscoa. Dia comprido... Horas se arrastando... Tristeza, saudade, ansiedade, sensação de inutilidade. Sentíamos necessidade de fazer alguma coisa e tivemos a idéia de ir ao túmulo, quando o sábado terminasse, para ungir o corpo de Jesus. Na pressa, isso não tinha feito, dizíamos. Tão preocupadas com o costume, esquecemos que Ele mesmo identificou no gesto de Maria de Betânia, a preparação para o seu sepultamento. Lembram que Ele aceitou ser ungido por ela, com uma libra de nardo puro? (Mateus 26.12; Marcos 14.8; João 12.1-8). Pois nós esquecemos. Mas Deus, que é maravilhoso, usou a idéia como pretexto para nos proporcionar a grande bênção.
Observe as providências de Deus.
Chegamos lá e tomamos um susto: a pedra estava removida. Nós não entendemos, no primeiro momento, mas foi por nossa causa, para que nós pudéssemos entrar, que a pedra estava afastada. Não foi para que Jesus saísse. Ele não precisava disso. A pedra era obstáculo para nós, não para Ele.
Impacto sobre impacto, naquela manhã gloriosa, vimos e ouvimos anjos e o Senhor mesmo apareceu. Confundi-o com o jardineiro, porque as lágrimas não me permitiam ver direito. Quando Ele me chamou pelo nome, só pude dizer: Mestre! A voz não saía e não conseguia falar. (João 20.11-18).
Fiz o que Ele pediu. Corri e anunciei a Pedro e aos outros: Jesus ressuscitou!
Hoje, pensando com mais calma, analiso cada detalhe do que aconteceu e me pergunto:
- Por que coube a nós anunciar a Ressurreição do Senhor?
Foi porque levantamos cedo, fomos madrugadoras, como gostam de dizer? Acho uma resposta muito simples, muito fraca. Foi porque Deus se compadeceu do nosso sofrimento? Todos estavam sofrendo, naqueles dias. Foi porque nós o amávamos? Todos o amavam e confiavam nele. Foi porque fomos ao sepulcro? Não estávamos ali por acaso. O acaso não existe.
Só encontro uma explicação:
Deus nos escolheu para sermos as portadoras das boas novas da Ressurreição de Jesus.
Não procure encontrar méritos ou justificativas nas pessoas escolhidas. Nem tente explicar as ações de Deus. Ele é soberano em toda a Terra. Ele é o Altíssimo. Ele decide e sua vontade tem de ser feita entre nós, como é feita lá nos céus.
Mesmo que seja difícil admitir, mesmo que a visão esteja embaçada pelo preconceito, é preciso aceitar que Deus escolhe mulheres também, que as inclui nos seus planos de salvação da humanidade e que lhes confia tarefas da maior responsabilidade.
A ressurreição de Jesus é o ponto central nas pregações de Pedro, de Paulo e dos outros Apóstolos. É base na nossa fé. Pois antes de ser anunciada ao povo, foi anunciada por nós aos líderes da Igreja.
E eu fui a primeira a vê-lo. Louvo a Deus por isso.
Tantos anos depois, quero anunciar também para você: Jesus ressuscitou!
Creia nisso. Ele vive.
Eu sei. Eu vi.

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