sábado, 12 de janeiro de 2008

EVÓDIA E SÍNTIQUE

Filipenses 4.2

Essas duas... Essas duas são um caso sério. Apesar do puxão de orelhas que receberam do Apóstolo, tenho por elas grande simpatia. Sempre sorrio quando leio esse versículo.
Quem seriam? Que idade teriam?
Não as imagino idosas. Parecem ser duas senhoras, uma sempre implicando com a outra, uma sempre com ciúme da outra, uma sempre na contramão da outra, tornando os choques inevitáveis.
Seriam irmãs? Bem que poderiam ser. Irmãs formam o hábito de disputar prestígio junto ao pai e à mãe e, sem se dar conta, continuam assim. O que fica evidente é a carência emocional das duas, que fazia com que uma quisesse aparecer mais do que a outra. Ou ser mais estimada. Pessoas difíceis, que gostam de discussões, estão gritando por atenção e carinho. Incrível o poder calmante de um elogio, nesses casos.
Elas pertenciam à Igreja de Filipos, a primeira da Europa, a que começou com a conversão de Lídia.
O que sabemos sobre essa Igreja?
Foi fundada a partir de um grupo de mulheres. E, não por acaso, era muito generosa. Supria as necessidades do Apóstolo com abundância de bens materiais e de amor. Paulo diz-se grato aos irmãos que colaboravam com donativos. Estes chegavam a ele “como aroma suave, como sacrifício aceitável e aprazível a Deus”. (Filipenses 4.18)
Essa Igreja era a alegria e o prêmio de Paulo e ele tinha muita saudade dos que a integravam (Filipenses 4.1). Como seu líder e fundador, recomenda com carinho que permaneçam firmes na fé.
E, então, vem o pedido: “Rogo a Evódia e rogo a Síntique que pensem concordemente, no Senhor”.
Será que Paulo está pedindo que não haja divergências entre elas?
Divergir faz parte dos relacionamentos. Onde estiver o ser humano, ali estará o atrito. Divergir é um direito, até. Cada pessoa tem suas características, sua visão da realidade, suas idéias que, às vezes, não coincidem com as de alguém no grupo. Isso não é um mal. Pensar diferente pode conduzir à criação de alternativas, à correção de injustiças, à renovação do pensamento e da ação.
O exemplo mais dramático que conheço é o de Galileu Galilei. Até o século XVII as pessoas aprendiam que a Terra era imóvel, estava no centro do nosso Sistema e o Sol e os outros planetas giravam ao redor dela. A Igreja encampava essa teoria. Quando ele, através de seus estudos e da observação dos astros, chegou à conclusão de que não era assim, foi preso e ameaçado de morte, se não se retratasse. A Igreja não poderia ser desmoralizada perante seus fiéis. Ele se retratou para poder viver. Mas na velhice, antes de morrer, conseguiu falar: “E, no entanto, ela se move”...
A Igreja, o poder constituído, o Estado, a Sociedade, não detém o monopólio do pensamento. Constantemente, os avanços científicos e tecnológicos obrigam a uma revisão nas afirmações e nas práticas consagradas.
E a oposição às idéias? Tem de ser respeitada. Sem ela não há decisões democráticas. O pensamento único, quando imposto sobre os demais, é ditadura. O que tem de ser buscado nos grupos é a unidade apesar da diversidade.
As pessoas discutem porque querem que suas idéias prevaleçam. Ninguém posta de perder em uma disputa. Mas nem sempre perder é desdouro. Em 1990, por exemplo, quando foi proclamado o resultado na eleição para Presidente da República, achei mais honroso perder com o Dr. Ulysses Guimarães, do que ganhar com o Collor. O tempo revelou que eu estava certa.
E, finalmente, o debate tem de ser em torno de idéias e não de pessoas. Verifico em certas reuniões, que alguns têm sempre suas sugestões aprovadas, enquanto outros tem sempre suas propostas rejeitadas. Há nítida preferência entre os participantes. Isso é um vício e um erro do grupo. Essa conduta pode levar a injustiças e a desastres irremediáveis, a divisões.
Paulo estimava Evódia e Síntique. Juntas, tinham se esforçado com ele no trabalho da Igreja. Foi a forma como divergiam que o entristeceu. O que está pedindo é que haja respeito e amor na maneira como expõem o pensamento. E que procurem chegar a um acordo.
A Igreja, que é o corpo de Cristo, precisa se apresentar em harmonia. Um membro não pode ofender o outro.
Divergir, sim. Agredir, jamais!

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