sábado, 12 de janeiro de 2008

TESTEMUNHAS DA RESSURREIÇÃO - MARIA MADALENA

Testemunhas da Ressurreição
Maria Madalena
Mateus 27.56 e 61; 28.1-10, Marcos 16.1
Lucas 8.2; 24.10, João 19.25; 20.1-2; 20.11-28

Meu nome é Maria. Como havia muitas Marias no grupo de Jesus, recebi um segundo nome, que indica o meu lugar de origem. Minha cidade natal é Magdala. Aliás, é uma povoação, situada na margem ocidental do Mar da Galiléia. Assim, de Maria de Magdala, passei a Maria Magdalena, ou simplesmente Madalena.
Sou a discípula em quem mais se fala, nos Evangelhos. Todos, Mateus, Marcos, Lucas e João, se referem a mim. É que eu era bem conhecida no grupo. E muito estimada também. Eu era a prova viva e sempre presente do poder e da autoridade de Jesus.
Mas quero começar meu depoimento desde antes de conhecer o meu Mestre e Senhor.
Tive uma vida normal, de pessoa normal, vivendo em uma pequena cidade. Ainda jovem, comecei a apresentar manifestações de espíritos. Primeiro, veio um de adivinhação. Eu sabia que era proibido em nossa lei, mas não reagi, porque passei a despertar a atenção dos meus conterrâneos. (Deuteronômio 18.9-13).
Depois veio um de previsão do futuro. Ninguém podia conferir, mas todos acreditavam. E eu também não reagi, porque me transformei na atração do lugar.
Mais um pouco, e me comunicava com os mortos. Ou as pessoas viam assim. Vinham de longe para me ver em ação, tomada pelos espíritos. Ou demônios, que é a mesma coisa. Aprendi isso depois, com Jesus. Ele não dizia só espíritos. Sempre acrescentava imundos.
Como eu permitia que eles me usassem, cada vez era maior o seu número. Sete demônios passaram a me dominar e a me anular. Perdi a identidade. Perdi o equilíbrio emocional. Perdi a saúde mental. Fiquei totalmente transtornada. As pessoas se afastaram de mim. Algumas tinham medo, outras riam da minha situação.
Minha vida era um inferno. Agredia aos outros e a mim mesma. Quantas vezes pensei em suicídio! Eram eles querendo me destruir. Se eu pudesse me libertar... Mas não tinha mais forças para isso. Estava completamente dominada. Minha alienação da realidade era tamanha, que nem lembro se alguém me levou a Jesus, ou se Ele veio onde eu estava. Sei que, quando me viu, teve compaixão de mim. Expulsou os demônios e me libertou. Foi como se eu nascesse de novo.
Ninguém tem idéia da minha felicidade, da minha alegria. E da minha gratidão a Jesus. Eu não precisava que explicassem quem Ele era. Eu sabia, eu sentia que estava diante do Filho de Deus!
Pensei que a única maneira de agradecer seria segui-lo, como Suzana, Joana, Maria – mãe de Tiago e tantas outras que o acompanhavam desde a Galiléia. (Lucas 8.1-3). Queria estar perto dele, para minha proteção. Queria caminhar ao seu lado, para que soubessem que eu não era mais a louca de Magdala, mas a Maria Madalena, discípula do Mestre de Nazaré. Queria contar aos outros que o seu poder me libertou, me transformou.
O ministério de Jesus foi um período difícil, de sacrifício mesmo. Sempre andando, pela Galiléia, pela Samaria, pela Judéia. Mas foi também, um período muito abençoado. Éramos como crianças, crescendo em conhecimento e em sabedoria. E a graça de Deus estava sobre nós. Jesus abria nossos olhos para as carências das pessoas e dizia que precisávamos supri-las. E que o amor ao próximo deveria ser dimensão do nosso amor a Deus.
Muito tempo depois, começaram a registrar os ditos e os sinais de Jesus. Pedro através de Marcos, Mateus e suas comunidades, Lucas recolhendo o que cada um de nós lembrava, João e tantos outros. Fiquei feliz com as referências às mulheres da Galiléia e, principalmente a mim, no final de cada Evangelho. Muito mais poderia ter sido escrito.
Nós repetimos tão depressa: foi crucificado, morto e sepultado. Mas como custou a passar... Quanto sofrimento para Ele e para nós. Que fazer, vendo o nosso amigo em agonia? Logo Ele, que só fez o bem? Que dizer a Maria, sua mãe, vivendo a profecia de Simeão, sentindo uma espada traspassando a própria alma? (Lucas 2.35). Nada a dizer. Apenas abraçar e chorar juntas. Misturar as lágrimas como havíamos misturado as esperanças.
E como perceber a mão de Deus nos acontecimentos? Como identificar a sua graça, o seu amor? Difícil sentir Deus no sofrimento, não é? Parece que Ele nos desamparou, parece que nos abandonou. Mas João viu, o querido João, tão jovem e tão firme ao nosso lado. Ele, que a tudo assistiu, foi capaz de ver além da cruz. Ele, que a todas confortou, foi capaz de ver além da dor. Ele, que conservou a esperança, foi capaz de escrever, mais tarde:
“Porque Deus amou ao mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (João 3.16).
Ouro puro, riqueza, essa afirmação de João!
E, agora, o episódio da Ressurreição de Jesus. Quantas vezes anunciei! Quantas vezes confirmei! Quanta emoção, em cada vez! São tantos os detalhes e é tão importante lembrá-los...
Primeiro, a espera de que passasse a comemoração da Páscoa. Dia comprido... Horas se arrastando... Tristeza, saudade, ansiedade, sensação de inutilidade. Sentíamos necessidade de fazer alguma coisa e tivemos a idéia de ir ao túmulo, quando o sábado terminasse, para ungir o corpo de Jesus. Na pressa, isso não tinha feito, dizíamos. Tão preocupadas com o costume, esquecemos que Ele mesmo identificou no gesto de Maria de Betânia, a preparação para o seu sepultamento. Lembram que Ele aceitou ser ungido por ela, com uma libra de nardo puro? (Mateus 26.12; Marcos 14.8; João 12.1-8). Pois nós esquecemos. Mas Deus, que é maravilhoso, usou a idéia como pretexto para nos proporcionar a grande bênção.
Observe as providências de Deus.
Chegamos lá e tomamos um susto: a pedra estava removida. Nós não entendemos, no primeiro momento, mas foi por nossa causa, para que nós pudéssemos entrar, que a pedra estava afastada. Não foi para que Jesus saísse. Ele não precisava disso. A pedra era obstáculo para nós, não para Ele.
Impacto sobre impacto, naquela manhã gloriosa, vimos e ouvimos anjos e o Senhor mesmo apareceu. Confundi-o com o jardineiro, porque as lágrimas não me permitiam ver direito. Quando Ele me chamou pelo nome, só pude dizer: Mestre! A voz não saía e não conseguia falar. (João 20.11-18).
Fiz o que Ele pediu. Corri e anunciei a Pedro e aos outros: Jesus ressuscitou!
Hoje, pensando com mais calma, analiso cada detalhe do que aconteceu e me pergunto:
- Por que coube a nós anunciar a Ressurreição do Senhor?
Foi porque levantamos cedo, fomos madrugadoras, como gostam de dizer? Acho uma resposta muito simples, muito fraca. Foi porque Deus se compadeceu do nosso sofrimento? Todos estavam sofrendo, naqueles dias. Foi porque nós o amávamos? Todos o amavam e confiavam nele. Foi porque fomos ao sepulcro? Não estávamos ali por acaso. O acaso não existe.
Só encontro uma explicação:
Deus nos escolheu para sermos as portadoras das boas novas da Ressurreição de Jesus.
Não procure encontrar méritos ou justificativas nas pessoas escolhidas. Nem tente explicar as ações de Deus. Ele é soberano em toda a Terra. Ele é o Altíssimo. Ele decide e sua vontade tem de ser feita entre nós, como é feita lá nos céus.
Mesmo que seja difícil admitir, mesmo que a visão esteja embaçada pelo preconceito, é preciso aceitar que Deus escolhe mulheres também, que as inclui nos seus planos de salvação da humanidade e que lhes confia tarefas da maior responsabilidade.
A ressurreição de Jesus é o ponto central nas pregações de Pedro, de Paulo e dos outros Apóstolos. É base na nossa fé. Pois antes de ser anunciada ao povo, foi anunciada por nós aos líderes da Igreja.
E eu fui a primeira a vê-lo. Louvo a Deus por isso.
Tantos anos depois, quero anunciar também para você: Jesus ressuscitou!
Creia nisso. Ele vive.
Eu sei. Eu vi.

TESTEMUNHAS DA RESSURREIÇÃO - MARIA

Maria, mãe de Tiago
Mateus 27.56, Marcos 16.1, Lucas 24.10
Fui discípula de Jesus. Mais uma, entre as muitas Marias que seguiram o Mestre. Era identificada por Maria, mãe de Tiago. Havia outra, também Maria, também mãe de Tiago. Essa era Maria Salomé, mulher de Zebedeu. Para diferençá-la de mim, diziam: Mãe de Tiago e de João.
Meu filho era Tiago, o menor. Seu pai e meu marido era Alfeu. (Bíblia Vida Nova).
A experiência de seguir a Jesus foi marcante em minha vida, como na de todos os outros e outras. Tiago decidiu acompanhar Jesus. Fui também, mas não era apenas vontade de estar perto de meu filho, e de enfrentar o que ele enfrentasse. É que Jesus tinha um carisma... Não sei explicar. Era a aparência, era a voz, era a maneira de falar, era a sua identidade com o Pai celeste, era o seu conhecimento das escrituras, era a sua autoridade, era o seu poder. O seu poder...
Ele não gostava que destacassem os milagres. Chamava sinais. Não eram demonstrações de um poder sobrenatural. Eram manifestações de seu amor, de sua compaixão, de sua misericórdia para com as pessoas.
Nós, que presenciávamos, entendíamos a dor das limitações antes, e a alegria da cura, depois. A marginalização de uma vida inteira e a integração na sociedade, quando passavam a ver, a ouvir, a falar, a se movimentar, a se mostrarem sadios e limpos. Era como se fosse em nós, como se Ele operasse maravilhas nos nossos queridos.
Uma vez, Ele interrompeu o enterro de um moço, filho único de uma viúva, em Naim. Era muito triste ver aquela mãe, tão arrasada. Mas foi uma bênção quando Jesus, espontaneamente, sem que ninguém pedisse, apenas por compaixão, o ressuscitou e o devolveu à mãe. Choramos de alegria junto com ela. Nós éramos capazes de entendê-la. Nós também temos filhos moços e sabemos como são amados e importantes.
Nossa presença no grupo, a princípio, era para servir. Era a nossa idéia de participar. Não é isso o que mulher sempre faz? E aqueles sonhadores esqueciam de comer, esqueciam de dormir, de descansar. Mas com Jesus era diferente. Homens e mulheres serviam. (João 4.8). Quando havia pouca gente, nós mesmos providenciávamos. Quando a fome apertava na multidão, só Jesus dava jeito. E não eram dezenas ou centenas de pessoas. Eram milhares! (Mateus 14.20-21).
Um episódio em que homens e mulheres serviram juntos foi o da última Ceia. (Talvez devesse chamá-la Primeira Ceia, no novo sentido que Jesus lhe deu.) A tendência é pensar que os discípulos fizeram tudo. Quem, vocês acham, que moeu o trigo e fez o pão? Quem temperou e assou o cordeiro? Quem preparou e arrumou a mesa, providenciou no vinho, nas ervas amargas, em tudo o que faz parte do ritual da Ceia? Homens e mulheres, juntos! A Páscoa para nós era uma festa da família. Homens e mulheres tinham participação.
Na crucificação, sim, nós fomos a maioria. Dos homens, só João estava ali. Nós ficamos todo o tempo junto de Jesus. Não sei como encontramos forças para isso... Dizem que mulher é fraca, não é? Todos são. Ou ninguém é, com a ajuda de Deus. Só com a força que veio de Deus, nós pudemos resistir.
Foi muito triste. De vez em quando Jesus falava. Nós lembramos de sete palavras. Sete vezes em que se preocupou com os outros ou, então, disse o que sentia.
- Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem (Lucas 23.24).
Mulher, eis aí o teu filho. Eis a tua mãe. Para Maria, sua mãe e João. (João 19.26-27).
- Em verdade te digo que hoje estarás comigo no paraíso. Para um dos salteadores, companheiro de crucificação. (Lucas 23.43).
Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste? Citando o Salmo 22.1.
- Tenho sede!
- Está consumado.
- Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito! Citando o Salmo 31.5.
O que veio a seguir, foi muito rápido, muito apressado. Enrolaram o Senhor em um lençol de linho e o levaram para o túmulo que José de Arimatéia, seu discípulo, emprestou (Mateus 27.57). Tinha de ser um túmulo novo. O cadáver de um supliciado não podia ser posto num túmulo já ocupado, pois aí iria profanar os ossos dos justos. (Bíblia de Jerusalém). E também para se cumprir a profecia de Isaías (Isaías 53.9). Assim, Jesus teve sepultura de rico. Mas enterro de pobre. Pouquíssima gente o levou até o jardim.
Que vontade de lavar, de limpar o sangue dos cabelos, da testa, derramado pela coroa de espinhos... Que vontade de lavar as mãos e os pés, ensangüentados pelos cravos... Que vontade de fechar o ferimento do lado, quando uma lança foi arremessada contra Ele... Nada pudemos fazer, naquele momento. Nem a tristeza permitiu que compreendêssemos que aquele sangue foi derramado por nós, para o perdão dos nossos pecados. Nossos e de toda a humanidade.
O episódio da Ressurreição do Senhor tem sido muito comentado, na pregação de mensageiros e mensageiras do amor de Deus. E precisa ser. Toda a vez que se falar no sacrifício de Jesus, tem de ser mencionada a parte que veio a seguir. Não é bom separar morte e Ressurreição. Jesus sempre se referiu às duas, juntas. Se é verdade que Jesus morreu, também é verdade que Ressuscitou. E eu sou testemunha de ambas.
Foi assim: Na madrugada do primeiro dia da semana, enquanto todos dormiam, Maria Madalena, Joana e eu sentimos a necessidade de ir ao túmulo, levando especiarias para ungir o corpo do Senhor. Era como se um imã nos atraísse para lá. Ou como se uma força nos impelisse naquela direção.
Ao chegarmos, a decepção e o medo, ao ver a pedra removida e o túmulo vazio. A surpresa, ao ver o anjo, que nos conduziu ao lugar onde Ele jazia e nos tranqüilizou, ao anunciar a sua Ressurreição. Finalmente, o anjo disse que devíamos contar aos discípulos a boa notícia, ordenando-lhes que fossem para a Galiléia, para ver o Senhor.
Foi o que nos preparamos para fazer, exultantes de alegria. Saímos do túmulo e nova surpresa: Jesus mesmo veio ao nosso encontro. Caímos de joelhos, abraçamos seus pés e o adoramos! (Mateus 28.1-10).
Poderíamos ter ficado paralisadas pela emoção, mas por amor a Jesus obedecemos sua ordem de ir até onde estavam os discípulos. Sabe qual foi a reação deles? Não acreditaram, disseram que era tolice, imaginação de mulher. Só depois que foram ao túmulo, é que creram.
Não quero que aconteça o mesmo com você. Aceite a minha palavra.
Creia nisto:
Jesus vive. Ele ressuscitou.
Eu sei. Eu vi o Senhor.

TESTEMUNHAS DA RESSURREIÇÃO - JOANA

Lucas 8.1-3, 23.50-56 e 24.1-12;22-24

Fui discípula de Jesus e o acompanhei desde a Galiléia. Éramos um grupo de mulheres. Algumas foram curadas de enfermidade, outras libertadas de possessão demoníaca.
O meu caso era um pouco diferente. Eu era bem conhecida, porque antes fazia parte da Corte do Rei. Era sempre apontada e identificada no grupo de Jesus:
- Aquela é Joana, mulher de Cuza, Procurador de Herodes.
Gostavam de destacar minha presença para mostrar que Jesus empolgava em diferentes classes sociais e políticas. Na religiosa também. Embora mais discretos, escribas e fariseus constantemente o procuravam.
Eu participava da vida da Corte, acompanhando meu marido. Achava natural desfrutar dos privilégios do poder. Manobras, artimanhas, disputas políticas nem chegavam ao meu conhecimento. Era assunto dos homens. O que interessava é que nós estávamos acima do povo. E acima de nós, só o Rei.
Bem, o título de Rei era apenas uma cortesia, um costume. Na verdade, Herodes Antipas, filho de Herodes – o Grande, era um Tetrarca, pois reinava sobre uma quarta parte do País, na Galiléia e na Peréia. Mas todos o chamavam Rei e nosso dever era homenageá-lo, reverenciá-lo, obedecê-lo.
Alguém começou a criticar Herodes e a expor os seus pecados. Era um jovem Profeta, chamado João. Ele denunciava e censurava o rei por seu casamento com a cunhada e por todas as maldades que havia feito. (Lucas 3.19).
Isso era novo para nós. O Rei estava além de qualquer julgamento. Ele detinha poder e sua vontade era lei. Até entendemos que Herodes mandasse prender João, o Batista. A intenção era intimidá-lo, para que se calasse. Mesmo os Reis mais arbitrários respeitavam os profetas e Herodes sabia que João era justo e santo (Marcos 6.20). Esperávamos que fosse libertado em breve.
Chegou o dia do aniversário do Rei. Todos os anos era comemorado com grande festa. Muitos e importantes convidados compareciam. Acrobatas, músicos, poetas, dançarinos eram contratados. Naquele ano, a atração principal foi Salomé, filha de Herodias e enteada do Rei. E no meio de tantas luzes, tanta beleza, tanta alegria, o pedido que Salomé fez – a cabeça de João Batista. (Marcos 6.21-29).
O banquete teve um fim macabro. O ambiente ficou muito pesado. A maioria lamentou estar na festa. E o Rei ficou vulnerável. Intimamente, todos o censuravam.
Meu descontentamento era total. Não estava mais orgulhosa da alta posição de meu marido. Não me sentia mais segura no palácio. Nem o Rei nem a Rainha contavam com a minha aprovação. Não os admirava mais. Agora os temia.
Eu já sabia da existência de Jesus. Por curiosidade, quis ouvi-lo. Fiquei fascinada com o seu discurso e com os seus milagres. A popularidade de Jesus só crescia. Multidões o seguiam. Como os outros, ao saber que Ele era descendente de Davi, achei que ali estava o líder de que precisávamos. Resolvi segui-lo também e, assim, troquei de Rei. Deixei o violento e adotei o bondoso e misericordioso. Estava tão claro que naqueles dias se cumpririam as profecias de redenção de Israel... E ali estava o Enviado, o Prometido, o Filho de deus.
Meu marido apoiou a decisão e até me deu algum dinheiro porque mulher não tinha bens. E, assim, eu ajudava a manter o grupo em suas andanças, de cidade em cidade, de aldeia em aldeia.
Era uma alegria seguir a Jesus. Ele nos surpreendia com palavras, com atitudes, com manifestações do seu poder. Ele espalhava idéias novas, que obrigavam a pensar. Ele dava uma nova visão do reino de Deus. Ele semeava esperança nos corações. Ele curava. Ele libertava. Ele até ressuscitou uma menina, um jovem e um amigo. Nós éramos testemunhas de seus maravilhosos sinais e glorificávamos a Deus por nos permitir presenciá-los.
Para conter um pouco o nosso entusiasmo, às vezes Ele falava em sua morte e ressurreição. Ao ouvir a palavra morte, nós bloqueávamos o entendimento de suas palavras. Não gostávamos que falasse assim.
E, então, quando se dirigia a Jerusalém para a celebração da Páscoa, o povo começou a aclamar com uma saudação messiânica e a jogar capas, ramos e flores, para que passasse.
Hosana! Hosana! bendito o que vem em nome do Senhor! (Salmo 118.25-26).
Ele montava um jumentinho, como sinal de que vinha em paz e para cumprir as palavras do Profeta Zacarias. (João 12.15). Era tão espontânea a manifestação do povo! Jesus, finalmente, permitiu que o identificassem como o Messias. Foi emocionante!
Pois naquela mesma semana, como havia dito, foi entregue aos que o buscavam, para o matar. Ele foi crucificado. Um dia terrível para todas nós. Estivemos junto dele todo o tempo, assistindo a sua agonia. Sabíamos que aquela tortura poderia durar dias.
Mas à hora nona, Ele expirou. José de Arimatéia, também seu seguidor, teve a idéia de pedir autorização a Pilatos para tirá-lo da cruz. Apesar de esse não ser um direito dos crucificados, Pilatos consentiu. Havia pouco tempo para enterrá-lo. As comemorações do sábado já iam começar. Na pressa, Ele foi enrolado em um lençol e deixado no túmulo. (Isaías 53.9).
Esperamos que passasse a Páscoa e, no primeiro dia da semana, fomos preparar o nosso Mestre, ungi-lo com aromas e bálsamos. Bem cedo, chegamos ao jardim. A pedra enorme e pesada estava removida e o túmulo estava vazio. Anjos nos deram a boa notícia da sua ressurreição. Como num relâmpago, suas palavras voltaram às nossas mentes. O que havia dito, realmente aconteceu. Deixamos tristeza e medo no túmulo e, cheias de alegria, fomos repartir as boas novas com os discípulos.
E hoje estou aqui para contar o mesmo a você.
Eu só queria seguir a Jesus. Mas pelo seu poder e pelo seu amor, ele me transformou em testemunha da sua ressurreição.
Creia nisto:
Jesus vive. Ele ressuscitou.
Eu sei. Eu vi o túmulo vazio.

JÔNATAS, JAZEÍAS, MESULÃO E SABETAI

Esdras 10.15

Esses nomes não parecem ser de mulheres. E não são. São homens que merecem a minha admiração pela sua visão, pela sua sabedoria, pela sua coragem. São apenas quatro, mas enfrentaram os líderes e o próprio povo, com sua opinião diante de um grave problema.
Vamos aos dados históricos, para localizá-los no tempo e nas circunstâncias em que se destacaram.
O último capítulo do Livro das Crônicas registra a derrota de Judá, o Reino do Sul. O do Norte não existia mais. Tinha sido dominado pelos assírios, muito tempo antes.
O Profeta Jeremias tinha pregado, exortado, chamado o povo à fidelidade ao Senhor. Se não atendessem, anunciava que perderiam o que mais valorizavam: a terra, o Templo, o Rei.
Em 597 AC, Nabucodonosor atacou Jerusalém e levou o Rei Joaquim preso. Em seu lugar, ficou Zedequias (II Reis 24.12 e 17). Nove anos depois, Nabucodonosor, voltou, sitiou e invadiu a cidade, incendiou-a, destruiu o Templo, cegou o Rei, acusado de traição e levou o povo cativo para a Babilônia (II Reis 25.7).
Quase um século se passou.
Durante o exílio, a maioria foi fiel às origens e guardou os nomes de seus antepassados. Os versículos 21 e 34 nos dizem de 468 homens que tinham como referência apenas os nomes das cidades de onde eram o avô, ou o bisavô, que tinham vindo entre os cativos para a Babilônia.
É que muitos casaram com estrangeiras durante o tempo do cativeiro e se integraram na nova terra, adotando usos, costumes e até seus deuses. Mas muitos continuaram fiéis.
Nesse período, foram criadas as sinagogas. O local principal do culto tinha sido o Templo, construído pelo Rei Salomão, em Jerusalém. Com a destruição dele e a distância da terra natal, houve necessidade de criar locais onde a fé pudesse ser mantida, onde a língua fosse preservada, onde os textos sagrados pudessem ser lidos e estudados. Esses locais foram as sinagogas. E ali existiam também os registros das famílias. Tudo organizado para a volta a Jerusalém, quando se cumpriram as profecias de Isaías e Jeremias.
Ciro, o grande Imperador persa conquistou a Babilônia. Foi quando os exilados aprenderam o aramaico, a língua oficial do Império persa. E também receberam permissão para voltar a Jerusalém. (Esdras 1.14).
A volta aconteceu em levas. O primeiro grupo veio sob a liderança de Zorobabel, Jesua, Neemias e outros. A relação dos que voltaram está no capítulo 2 de Esdras.
Acho esse retorno emocionante. A esperança cultivada durante o longo período do cativeiro, agora era uma realidade. Quase 50.000 pessoas, cavalos, camelos e jumentos, numa imensa caravana, se puseram a caminho (capítulo 2.64-67). Vieram e trouxeram recursos em ouro e prata para a reconstrução do Templo.
Era um novo Êxodo, o povo em marcha, movido pela fé e pela esperança.
Chegando em Jerusalém, depois de lançados os alicerces do Templo, com os olhos no futuro, cantavam e louvavam ao Senhor, ao som de trombetas e címbalos. Os mais idosos choravam de emoção. (capítulo 3. 10-13).
A construção foi interrompida e no capítulo 6 já não se fala em Ciro, mas em Dario, seu descendente. Este manteve a autorização e o Templo foi edificado e dedicado ao Senhor. No capítulo 7, o Imperador persa já é Artaxerxes, que envia Esdras, o escriba. Ele veio da Babilônia a Jerusalém com a autoridade de um descendente direto de Arão, irmão de Moisés. E trouxe um decreto do Imperador, que é uma procuração com amplos poderes, até para nomear magistrados e juizes . (versículo 25).
Com Esdras veio outra leva dos exilados, liberados do cativeiro persa.
O capítulo 9 é dramático. Esdras é o líder espiritual do povo e faz uma confissão de culpa ao Senhor, humilhado porque parte do povo misturou a linhagem santa com os povos de outras terras, através de casamentos mistos. Essa era uma proibição desde os tempos de Moisés, registrada em Êxodo 34.11-16.
Esdras orou, fez confissão e chorou, prostrado diante da casa de Deus. (capítulo 10.1). Nesse ambiente de tanta emoção, um certo Secanías apresentou a sugestão de despedir todas as mulheres estrangeiras com seus filhos. Esdras continuou chorando e não comeu pão nem bebeu água, por causa da transgressão dos que tinham voltado do exílio. (versículo 6).
Foi convocada uma assembléia em Jerusalém.
Da decisão de expulsar mulheres e crianças veio a de tomar os bens de quem não comparecesse. A emoção ia num crescendo e se transformara em sentimento de rancor e de vingança.
Nesse contexto emocional, era natural que todos pensassem da mesma forma. Mas Jônatas, Jazeías, Mesulão e Sabetai tiveram a coragem de divergir.
Li cuidadosamente o texto e, em nenhum momento, há referência a uma ordem do Senhor para expulsar as mulheres estrangeiras. A decisão foi tomada em clima emocional. Era a vontade de Secanias primeiro e a do povo, depois. Todos queriam a mesma solução, com exceção dos quatro, que tiveram a sensatez de defender as mulheres.
Eles perceberam que o povo estava tentando corrigir um erro, cometendo outro erro. Na verdade, estavam condenando só uma parte dos transgressores. E o que seria daquelas mulheres, longe de sua terra, longe dos seus parentes, abandonadas à própria sorte? E as crianças, que eram filhas dos exilados?
Contei 109 homens que casaram com mulheres estrangeiras (versículo 20-44). Que fração pequena em 50.000 da primeira leva, mais os da segunda!
Ao discordar da proposta de Secanias, estavam chamando a atenção para uma realidade que estava ali, diante de todos e que não podia ser ignorada. E que a aceitação da proposta traria graves conseqüências. E que casamento envolve emoções e responsabilidade. E que pessoas não são descartáveis.
Em nossos dias, a solução seria aplicar a Lei a partir daquela data. É princípio universal que a Lei não pode ter efeito retroativo para prejudicar. Somente para beneficiar.
Esdras formou uma comissão para estudar o assunto e ela foi favorável ao repúdio às mulheres.
Entendo o problema à luz da época e da necessidade de dar o exemplo para as novas gerações. Mas houve excesso de zelo no julgar.
Que lição para os que participam de grandes assembléias! Mesmo expressando a vontade da maioria, as questões não podem ser resolvidas sob emoção. As soluções e suas conseqüências têm de ser analisadas à luz do bom senso e da justiça. A emoção pode cegar e desviar do que é certo e do que é justo.
Não posso deixar de admirar Jônatas, Jazeías, Mesulão e Sabetai. Não encontrei seus nomes entre os transgressores, o que torna maior o gesto. Não protestavam em causa própria. Foi para defender outros que tiveram a coragem de falar.
Para finalizar:
Se alguns séculos antes desse episódio, Rute fosse expulsa com seu filhinho Obede, por ser estrangeira, seu bisneto Davi jamais teria sido Rei em Israel. Nem ele, nem Salomão, nem todos os outros Reis de Judá, o Reino do Sul. A História teria sido totalmente alterada.
Dou graças a Deus porque Ele não faz acepção de pessoas nem discrimina povos, raças ou nações. Pela fé em Cristo integramos o seu povo e todos somos amados e amadas por Ele.

MAALÁ, NOA, HOGLA, MILCA E TIRZA

Números 26.33-34, 27.1-11, 36.1-13

Sei que vão achar diferentes e estranhos esses nomes, mas é preciso guardá-los. Essas mulheres foram importantes. Maalá, Noa, Hogla, Milca e Tirza são as cinco filhas de Zelofeade. Pertenciam à tribo de Manassés, filho de José e neto de Jacó. Seus pais nasceram no Egito, enquanto o povo era escravo. A lógica indica que elas nasceram no deserto, no período da caminhada rumo à Terra Prometida. Por duas razões: ainda eram jovens, solteiras e não pertenciam à geração dos que saíram do Egito. Esses não entrariam na nova terra. Nem Moisés. Só Josué e Calebe.
Zelofeade quer dizer Sombra do Medo. É um nome muito sugestivo. Talvez, ao nascer, estivesse sob a Lei do Faraó, que mandava afogar os meninos hebreus no Rio Nilo. Ou então, expressava as tensões que os pais sofriam, na condição de escravos.
O episódio a que o capítulo 27 se refere, aconteceu depois da volta dos espias à Terra de Canaã. O longo período do deserto estava no fim. Tudo estava pronto para a posse da terra. O penoso aprendizado, para transformar em povo a massa escrava saída do Egito, deveria dar resultados agora. O ordenamento jurídico, com essa finalidade, estava pronto. A Lei estava completa. E o povo estava preparado para viver sob ela, respeitando-a. Os deveres estavam estabelecidos e os direitos estavam assegurados.
Moisés podia descansar em paz.
Só que... Cinco irmãs vieram até ele. Poderiam ter convocado um homem para representá-las. Mas não o fizeram. Apresentaram-se diante de Moisés, e diante de Eleazar, o sacerdote, e diante dos príncipes e de todo o povo, à porta da tenda da congregação. (Números 27.2). Não havia nelas sombra de medo. Eram filhas da coragem. em busca de Justiça. Defendiam um direito que não estava na Lei, mas que elas queriam reivindicar. Começaram lembrando episódios do passado. Falaram no pai, que morreu no seu pecado. Mencionaram uma revolta. Vamos ter que voltar atrás, no mesmo livro de Números.
Zelofeade tivera morte natural, dentro daquela geração rebelde, que não tinha licença de entrar na Terra Prometida. (capítulos 14.2-4 e 20-38). Mas não foi executado. (Bíblia Vida Nova).
O pecado não foi só de Zelofeade, mas de toda a sua geração. O povo tinha se revoltado contra Deus. E a entrada na Terra, que poderia ter sido feita em pouco tempo, se prolongaria por 40 anos. Foi pela intercessão de Moisés que isso ocorreu. O propósito do Senhor era eliminar aquele povo. Mas Moisés pediu e Deus manteve a promessa. Apenas, não permitiu aos que viram os prodígios no Egito, usufruírem das bênçãos no novo país.
A rebelião de Coré está registrada no capítulo 16.26-35. Ele e seus seguidores estavam cheios de inveja de presunção, de atrevimento, de falsa religiosidade, de desrespeito para com a casa de Arão, porque essa fora escolhida por Deus para o Sacerdócio. (BVN) Os filhos de Coré fizeram uma insurreição eclesiástica contra Arão. Datã e Abirão fizeram uma insurreição política contra Moisés. (BVN). Coré desejava destituir Arão da função de sacerdote. Datã e Abirão queriam destituir Moisés da posição de líder do povo. As conseqüências foram trágicas. (capítulo 16.31-35). Mas as moças estavam lembrando a Moisés, a Eleazar, aos príncipes e ao povo, que Zelofeade não havia participado da conspiração e da rebelião.
No versículo 4, elas fizeram a denúncia de uma injustiça. Não é justo que o nome do nosso pai desapareça do meio do seu grupo de famílias só porque não teve nenhum filho homem. E o pedido: Dê uma propriedade para nós entre os parentes do nosso pai (BLH). A herança era para os filhos. O pai não os tivera. Como poderia passar para outros o que legitimamente lhes pertencia? Por que as filhas de um pai rico seriam condenadas ao desamparo e à dependência da caridade alheia?
Moisés ouviu com atenção e foi consultar o Senhor, levando-lhe a causa.
Vale a pena transcrever a sentença do Juiz Supremo: O que as filhas de Zelofeade estão pedindo é justo. Você deve dar a elas uma propriedade entre os parentes de seu pai. A herança do pai deve passar para elas. (versículo 7 da BLH). E acrescentou outros parágrafos, muito importantes. Que vitória! A Lei serviria não só para o benefício delas, mas se estenderia a todas as mulheres na mesma condição, a todas as filhas – herdeiras, no presente e no futuro.
Quero destacar a figura de Moisés. Estava com 120 anos. Nós, que conhecemos a continuação da história, sabemos que morreria em breve.
Poderia ter dito:
- É a Lei, minhas filhas. Tem de ser cumprida. Vocês não podem querer mudá-la. Mulher não tem direito a herança. Indefiro o pedido.
Ou então:
- Elaborar essa Lei me deu muito trabalho. Estou velho e cansado. Nada posso fazer. Paciência.
Ou ainda:
- Estamos às portas de Canaã. Estamos às vésperas de entrar na Terra Prometida. Não vou mexer na Lei agora. Meu sucessor resolverá isso. Ele verá o que pode fazer.
Não foi assim que Moisés falou. Com a sabedoria de uma pessoa temente a Deus, consultou o Senhor para a solução do problema. O verdadeiro líder não existe para impor a sua vontade ou para transferir responsabilidade. Também não pode perpetuar injustiças, estando ao seu alcance corrigi-las. E, por maior que seja, não pode perder a humildade diante de Deus.
Deve ter dado muito trabalho acrescentar novos parágrafos. Mas a Lei foi mudada. Deus ordenou e, mais uma vez, Moisés cumpriu. A Lei era boa, mas era injusta. Tinha de ser reformulada. A Lei era boa, mas discriminava. Tinha de ser reformada. A Lei era boa, mas suprimia direitos. Tinha de ser alterada. O nosso Deus é justo. Não é omisso na garantia dos direitos.
Essa é a primeira parte na história de Maalá, Noa, Hogla, Milca e Tirza, mulheres corajosas e conscientes dos seus direitos. Com a ajuda de Deus, venceram. Mas a história continua. No capítulo 36 elas aparecem de novo. Os integrantes de sua tribo se sentiram ameaçados. Ficaram com medo de que seu quinhão fosse diminuído, se elas casassem e os maridos fossem de outras tribos. Novamente a Lei foi alterada. Mais uma vez a realidade social impôs mudanças na Lei.
Seus nomes diferentes e estranhos foram mencionados várias vezes na Bíblia. Merecidamente.
Elas nos ensinam:
- As leis devem ser analisadas e revisadas, periodicamente. No País, nas Associações, nas Igrejas. Muitas vezes consagram tradições e costumes que não fazem mais sentido. Ou contém cláusulas discriminatórias. É preciso, então, reformá-las e aperfeiçoá-las. Se o caso for levado a Deus, Ele inspirará as mudanças. Com toda a certeza.
- Não se abre mão de direitos. É preciso clamar. É preciso buscar. É preciso confiar na Justiça, humana e de Deus.
Esse fato ocorreu há mais de 3.000 anos. Que solução avançada! Ponto para a Legislação mosaica. Ainda hoje, em muitos países, as mulheres não tem seus direitos reconhecidos e respeitados.
Uma notinha final. Nem todos os filhos de Coré desapareceram. Havia outros, além dos 250 que morreram. Talvez não tivessem participado da revolta. Entre seus descendentes, está Samuel, grande Profeta e Juiz (I Crônicas 6.22,27 e 28). Também os cantores e inspirados poetas, autores dos Salmos 84, 85, 87, 88.

NOÉ, NEIMA, SEUS FILHOS E NORAS

Gênesis 6,7,8,9

O nome dessa mulher, Neima, não está em nossa Bíblia. Ele aparece na tradição judaica. Como é que eu sei? É um sonho antigo que estou realizando agora. Sempre achei que judeus e cristãos deveriam estar mais próximos no estudo do Velho Testamento. Graças à televisão a cabo, posso assistir a programas, nos quais participam rabinos e teólogos cristãos. Bem como eu pensava e queria.
No programa sobre Noé, a surpresa do nome de sua mulher e de outros dados, que vou resumir aqui. Primeiro vou contar sobre ele, depois entro com a minha parte, sobre ela e os outros.
Noé, desde o seu nascimento, foi uma criança diferente, até no aspecto físico. Tinha os cabelos brancos. Ficou em pé, caminhou e falou antes dos outros. Ainda era menino e Lameque, encantado com a inteligência e a capacidade do filho, levou-o ao avô, Matusalém. Esse consultou Enoque, o bisavô. Como sabemos, ele não tinha morrido. Fora trasladado (Gênesis 5.24-52 e Hebreus 11.5). Enoque disse que aquele menino era especial. Andaria com Deus, seria Profeta e salvaria a humanidade. Lameque deixou o filho com o avô. Matusalém instruiu Noé, ensinando-lhe sobre a história da criação, sobre seus antepassados, sobre engenharia, construção e plantação. Achei muito terna e emocionante essa parte: o neto ouvindo do avô sobre o poder e o amor de Deus, sobre as tradições da família, sobre assuntos que lhe seriam úteis, mais tarde.
Já ouvi alguém dizer que achava triste a vida de Matusalém. Dele, a Bíblia só diz que foram seus dias 969 anos, e morreu. (Gênesis 5.27, Lucas 3.37). Não fez nada, nada deixou. Deixou, sim. Deixou aos filhos e filhas, aos netos e netas, uma herança de fé.
Continuando. Noé se revelou um homem justo e íntegro. Ele andava com Deus (capítulo 6.9). E achou graça diante do Senhor. Depois que teve a revelação de que a Terra seria destruída e que os seus habitantes pereceriam, Noé tratou de obedecer fielmente às instruções de Deus. A primeira providência: fazer uma plantação de determinada árvore. Noé era lavrador (Gênesis 9.20). Cem anos depois, elas atingiram 50 metros de altura. Com elas, Noé poderia começar a construção da Arca.
E agora já posso falar da família do Profeta.
Já vimos que ele era uma pessoa muito especial. O mesmo se pode dizer de sua esposa. Como criou bem os filhos! Sabemos que essa era uma tarefa das mulheres. Que família unida! Que relacionamento bom entre os pais, os filhos e, mais tarde, as noras. Noé recebeu missão especial, mas a esposa e a família foram decisivas no cumprimento dela. Só com a ajuda da mulher e dos descendentes é que Noé pode completar o seu trabalho. Enquanto trabalhavam, Noé pregava sobre a justiça de Deus. Os contemporâneos riam e ridicularizavam a construção da Arca em tempo de seca. É difícil trabalhar e continuar trabalhando sob o riso e o descaso dos outros. Mas nenhum pensou em desistir. “Ninguém é profeta em sua terra”, citou Jesus. Pois Noé conseguiu ser Profeta na família. Dela, só recebeu apoio e colaboração. Mulher especial, filhos especiais, noras especiais.
Outra contribuição do rabino: Noé inventou ferramentas para executar esse imenso projeto de engenharia naval.
E eu pergunto:
Ainda não eram usados os metais. Como Noé serrou as árvores, fez tábuas, pregou-as e fixou-as? Como levantou tamanho peso? A Arca media 300 côvados. Mais ou menos 150 metros de comprimento, 25 de largura, 15 de altura. Ou ela seria diferente dos desenhos que conhecemos? Talvez não fosse pregada, mas amarrada, como as antigas embarcações no Egito e no Peru, que surgiram milhares de anos depois. É uma hipótese.
Depois da construção terminada, temos de imaginar o trabalho que deu recolher os animais e conduzi-los para dentro da Arca. Sabem por que vieram docilmente, calmamente e conviveram em paz, durante o dilúvio? Porque a humanidade, até então, era vegetariana. Só depois do dilúvio é que começou a se alimentar de carne (capítulo 9.2 e 3). Como não eram caçados, os animais eram mansos e não tenham medo das pessoas.
Novamente foi preciso a ajuda de todos, para conseguir colocar os pares de animais, alimentação e água na Arca. Ela foi dividida internamente, em partes. (capítulo 6.14). além dos três pavimentos, havia dois quartos – um para os homens e outro para as mulheres. Também entre os animais, houve separação entre machos e fêmeas. Não sabiam quanto tempo ficariam ali e não podiam correr o risco de ver o número de seus ocupantes aumentando. O peso seria muito maior e a Arca não agüentaria.
Terminadas essas tarefas, no dia dezessete do segundo mês, começou a chover. A família entrou e o Senhor fechou a porta. (capítulo 7.16). Outra parte em que não pensamos, é na angústia, ao ouvir os gritos e o clamor dos que iam perecer. Noé e os seus deveriam ter ficado muito tristes. Pessoas tão boas devem ter sentido a morte dos vizinhos e amigos, que eles não tinham condições de socorrer.
Também temos de pensar na agitação das pessoas e animais, ouvindo raios e trovões, sentindo a Arca balançar e se inclinar, sob o impulso das águas. Os animais urrando, zurrando, uivando, latindo, miando, mugindo, crocitando, cacarejando, silvando. Que barulheira! E foram quarenta dias de temporal...
Depois a chuva parou, mas no cap. 8, os versículos 4 e 5 falam nos meses em que eles ficaram fechados, esperando que as águas baixassem. Foi muito tempo! Deve ter se estabelecido uma rotina de trabalho: hora de levantar, hora de louvar e orar ao Senhor, hora de alimentar os animais, hora da limpeza, hora de recolher os ovos, hora de cozinhar, hora de comer, hora de descansar, etc., etc.. A rotina ajuda a passar o tempo. (Estou usando a hora como um período de tempo. Naturalmente, os relógios não existiam.)
E toda a família trabalhando. E toda a família ajudando.
As águas foram baixando, aos poucos. A Arca repousou sobre as montanhas de Ararate (capítulo 8.4). Ninguém sabe onde fica. Desconfiam que seja em uma cordilheira na Armênia. Veja no mapa a distância que a Arca percorreu, da Mesopotâmia até essa região. O sonho dos arqueólogos é descobrir vestígios de madeira entre as rochas desses montes.
Noé soltou um corvo, uma pomba e outra pomba. Esta última voltou com um ramo de folha nova de oliveira no bico (capítulo 8.11). Que distância ela percorreu, da montanha até um vale onde havia oliveiras? Precisamos salientar a resistência dos vegetais, sobrevivendo ao dilúvio. Danadas, as árvores. São os seres vivos que mais crescem. Compare a altura de uma criança de 5 anos com a de uma árvore da mesma idade. São os seres que mais resistem. Mesmo depois das queimadas, plantas brotam na terra. São os seres que mais vivem. Há árvores com 200, 300 anos.
Aos vinte e sete dias do segundo mês, a terra estava seca (capítulo 8.14). Depois de um ano, puderam sair. Noé levantou um altar para adorar o Senhor e agradecer a salvação de sua família. Deus falou com eles, abençoou-os e prometeu não mais destruir a Terra com dilúvio.
Enquanto o mundo existir, sempre haverá semeadura e colheita, frio e calor, verão e inverno, dia e noite. (Bíblia na Linguagem de Hoje). Deus estabeleceu uma aliança com os seus escolhidos e com toda a humanidade. O sinal foi o arco-íris. Depois de tanto tempo de trabalho e de angústia, a beleza do sinal do amor de Deus em cores, no céu. Quando o arco-íris aparecer nas nuvens, eu o verei e me lembrarei do acordo que fiz para sempre com todos os seres vivos que há no mundo (capítulo 9.16 – BLH).
Noé e Neima, Sem, Cão, Jafé e as respectivas esposas iniciaram a tarefa de habitar e administrar a Terra. Era como se a criação estivesse começando. Com a diferença de que, desta vez, não começou com um casal desobediente, mas com uma família temente a Deus, provada e aprovada em dura experiência de fé. Temos de citar essa família sempre em conjunto. A começar pelo casal. Falando em um, é preciso falar no outro. Porque o apoio da esposa foi fundamental na missão de Noé. E o dos filhos e noras também.
Graças a essa família unida, salvaram-se:
- a História, que os antepassados transmitiram a Noé e que ele passou a seus descendentes.
- plantas e sementes que Noé guardou. Muitas serviram de alimento, mas muitas sobraram.
- os pares de animais, que se espalharam e se multiplicaram na Terra.
- os casais.
No nosso tempo, quando há tantas mensagens ecológicas, de proteção à natureza e aos seres vivos, acho essa história muito importante. Precisa ser contada mais vezes.
Tudo passa e o dilúvio passou. Mas o amor de Deus permaneceu.
Porque Deus é bom e a sua misericórdia dura para sempre e de geração em geração a sua fidelidade (Salmo 100.5).

A MULHER-IRMÃ

I Coríntios 9.5

Um dos locais de atração turística onde gosto de levar visitantes nacionais e estrangeiros é o Catetinho. É um lugar que me emociona, pois ali o Presidente Juscelino Kubitschek despachava e convivia com os construtores de Brasília, da maneira mais simples e informal. Daquela construção saíam os que iam realizar o sonho de erguer no cerrado palácios, repartições públicas, blocos de apartamentos que, um dia, tornariam possível a vida e o trabalho na futura Capital do Brasil. Em um ritmo que impressionou o Brasil e o mundo.
Mas o ponto que quero destacar é uma parte da vegetação nativa que foi preservada naquele local. Logo no início do caminho que conduz à fonte, há uma árvore enorme, com uma tabuleta pregada no tronco, onde se lê: Jatobá. O do nosso cerrado, se destaca das demais pela sua imponência e pela nobreza do porte. É preciso levantar a cabeça para conseguir ver a copa, que ocupa muito espaço, produzindo larga sombra. As folhas mais altas é que estão na luz, como se ela lhes pertencesse.
Pois bem, ao lado do Jatobá há uma outra árvore esguia, comprida e fina, com raízes débeis, que deve ter encontrado muita dificuldade para crescer. Mas, por não ter desistido, subiu e também conseguiu seu lugar ao sol. Sua folhagem se misturou com a do Jatobá e é difícil distingui-las ou separá-las. Ninguém se preocupou em colocar tabuleta e seu nome é desconhecido. Quem vai querer saber de sua classificação botânica? Quem vai olhar para ela, podendo contemplar o Jatobá?
Hoje quero homenagear a mulher discreta, anônima ou quase, que tem o seu reconhecimento prejudicado porque existe ao lado de um marido-Jatobá.
Quero me referir a uma que é mencionada apenas uma vez, no Novo Testamento, e indiretamente, em um desabafo irritado do Apóstolo Paulo, em I Coríntios, capítulo 9.5. A tradução da Bíblia na Linguagem de Hoje registra assim:
“Será que não tenho o direito de levar comigo uma esposa cristã nas minhas viagens, como fazem os outros apóstolos, os irmãos do Senhor e Pedro?”
Quem era essa esposa cristã, essa mulher-irmã, como aparece na Versão Atualizada? Nem Lucas, que centralizou em Pedro o início do Livro de Atos, nem Marcos, que foi secretário do Apóstolo, se preocuparam em registrar o nome, ao menos. Quem foi essa mulher anônima, que existiu à sombra de Pedro e que despertou em Paulo o desejo de ter alguém assim, ao seu lado? Quem foi essa mulher que existiu no caminho que leva à Fonte da Água Viva, que é Jesus? Vamos tentar descobrir, buscando pistas de sua existência e de sua atuação, de seus sentimentos e emoções nas entrelinhas dos Evangelhos. Vamos voltar à segunda metade do primeiro século e vamos deixar que ela mesma fale:
- Que é que posso contar de mim e de nossa vida, que era tão simples? Bem, sou mulher de um pescador. Meu nome, onde nasci, de onde vim, não tem mais importância, agora. Sou o que sempre fui – a mulher de Simão, a nora de Jonas, a cunhada de André.
Vivíamos à beira do Mar da Galiléia, em Cafarnaum. Nossa casa era pequena, como as de todos os outros colegas de meu marido. Por causa da profissão, nossa rotina é que era bem diferente. Nossos horários não eram os mesmos dos outros. Para que pudessem vender peixe fresco, todas as manhãs, os pescadores trabalhavam, enquanto os da cidade descansavam e dormiam.
Muitas obrigações eram as mesmas de todas as mulheres: moer o trigo, fazer o pão, providenciar a comida. Limpar a casa, lavar a roupa. Tecer, para que não faltassem túnicas, mantos, ou cobertas. Acompanhar Simão até a praia, vê-lo partir, tentar enxergar as velas do barco sumindo entre as ondas, no horizonte escuro. Pedir que Deus o protegesse e o abençoasse com uma pesca boa e farta. Voltar para casa, dormir, ou melhor, intercalar períodos de sono com orações, para que Deus afastasse as tempestades, tão repentinas e fortes, em nossa região. Sempre pedindo por ele, sempre pensando nele, até que o sol começasse a aparecer. Então, voltar para a praia, com minhas outras companheiras e tentar enxergar entre as ondas, no horizonte que clareava, as velas do barco que trazia o pescador exausto, de volta para o aconchego da casa e da família. Depois era preciso ajudar a separar o peixe, a vender o peixe, a carregar o peixe que sobrasse, a estender a rede, a dobrar as velas, a amarrar o barco em lugar firme, porque dele dependia o nosso sustento.
Minha vida era modesta. Não havia falta, mas também não sobrava. Eu até ouvia falar em especiarias e perfumes que vinham do Oriente. Havia um, de nardo, que estava na moda. Mas não era para mim. Além de caro, como ficaria em uma casa que cheirava a peixe? A minha luta maior era com a areia. Molhada, seca, no cabelo, nas roupas, nas sandálias ou trazida pelo vento, boa parte do meu tempo era consumida tentando me livrar dela.
Nossa vida transcorreu assim por anos e anos, até que André, meu cunhado, encontrou João e resolveu segui-lo. Era um Profeta, filho de um sacerdote. Ele pregava arrependimento e batizava junto ao Rio Jordão. André largou as redes, a família e se foi. Naturalmente, Simão ficou sobrecarregado no trabalho, mas não se queixou, nem eu. É que somos muito religiosos e sentimos que um tempo novo estava chegando, de acordo com as Escrituras.
Logo depois, João, o Batista, foi preso e André voltou, falando em um outro jovem, Jesus de Nazaré. Um dia, quando estavam na praia, Jesus passou e convidou-os a segui-lo. Simão deixou de trabalhar também, e os dois passaram a acompanhar Jesus por onde Ele fosse. Eu quase não via meu marido. Não reclamei, porque compreendi que ele tinha recebido um chamado especial, de alguém muito especial, com poder especial. Eu mesma gostava de ouvir Jesus. Também não posso esquecer que ele curou a minha mãe e nós, que não sabíamos como agradecer, oferecemos nossa casa, para que ficasse conosco. Ofereci de coração e o recebi com muita alegria.
Foi então que nossa rotina mudou. Junto com o Mestre de Nazaré vieram seus discípulos e muito mais gente, o que exigia mais pão, mais peixe e mais limpeza, porque traziam mais areia... Por sorte minha mãe ajudava. Eu, sozinha, não daria conta.
As pessoas queriam ver, ouvir, tocar em Jesus. Traziam doentes para que os curasse. Depois que quatro amigos destruíram o telhado de uma casa, para colocar um paralítico diante dele, todos acharam melhor que Ele falasse de dentro do barco, na praia, ou nas encostas dos montes, onde a multidão poderia sentar para ouvir.
Jesus resolveu visitar outras cidades, ali por perto. Depois foi mais longe. Nas festas, ia a Jerusalém. E Simão junto. E eu sozinha, esperando por ele. Confiava que nada haveria de faltar – a mim e às famílias dos outros discípulos. Só da nossa praia eram quatro e havia muita solidariedade entre nós. Simão não voltava, mas eu sabia que estava feliz, fazendo o que achava que devia fazer. E também, de que adiantaria reclamar? Vocês acham que ele ficaria, se eu pedisse?
As notícias não eram muitas, nem recentes. Eles eram vistos caminhando pela estrada, de cidade em cidade, sem ter onde ficar ou dormir. O meu Simão caminhando... Ele não estava acostumado a isso. Nossos passeios eram no barco. E o Mar da Galiléia era a nossa estrada, entre uma e outra margem, entre Cafarnaum e Betsaida, sua cidade natal.
Três anos se passaram. Jesus não tinha mais só doze discípulos. Eram muitos, mais de setenta e até mulheres o seguiam... Algumas eram ricas e contribuíam com bens, para a manutenção do grupo. Por sorte era bem recebido pelo povo, em toda a parte. O mesmo não se podia dizer das autoridades religiosas. Começaram a perseguir Jesus e o clima de tensão aumentava cada vez mais.
Um dia, Simão voltou. Fiquei feliz, no primeiro momento, mas depois me assustei. Ele estava calado. Às vezes até chorava. Nunca tinha visto meu marido assim. A muito custo, consegui que falasse. Tinha um grande sentimento de culpa, por ter negado o Mestre. Contou sobre os acontecimentos tristes daquela Páscoa. Não entendia porque tinham prendido e crucificado o Senhor. Como puderam fazer isso com o Filho do Deus vivo? Bem que Simão tentou impedir e, impulsivo como só ele, cortou a orelha de um soldado! Jesus consertou a situação, realizando mais um milagre. Mas, para mim, o milagre maior foi não terem prendido Simão. Não gosto nem de lembrar...
Além da tristeza, o pânico tomou conta deles. Tiveram de se trancar em casa, com medo de também serem presos. Pobre do André, era a segunda frustração. E, então, o episódio mais bonito aconteceu: ao terceiro dia, Jesus ressuscitou! Eles nem conseguiam acreditar no que as mulheres vieram contar, sobre o túmulo vazio. Essa foi uma experiência gloriosa, que ele não cansa de repetir.
A história é longa e vocês conhecem bem o que ocorreu naqueles dias, até Simão assumir a liderança do grupo, revestido de poder pelo Espírito Santo, no Pentecostes. Nessa época já era mais conhecido como Pedro, apelido que Jesus lhe deu. A Igreja começou a crescer, a partir do discurso que meu marido fez. Que coragem! diz o povo. Mas corajoso ele sempre foi. Não era um pescador? Citou trechos das Escrituras e provou que aquele Jesus que foi crucificado, Deus o fez Senhor e Cristo. Conclamou o povo ao arrependimento e ao batismo, em nome de Jesus. Quase três mil pessoas se converteram!
Decidi acompanhá-lo depois que esteve preso. Soube que a Igreja orou muito. Aliás, os irmãos e as irmãs fizeram o que sempre fiz: pedir a Deus por ele. O Senhor enviou um anjo e o libertou.
Pedro viaja muito, agora. Precisa visitar as Igrejas, precisa atender aos convites que recebe, precisa pregar o Evangelho a toda a criatura, como Jesus mandou. Esse foi outro conflito que teve de superar, porque era muito apegado às tradições.
Os anos passaram e ele não é mais o jovem forte e vigoroso que pescava no Mar da Galiléia. Necessita de atenção e de cuidados. Mas não é só por isso que andamos sempre juntos. É que gosto do seu trabalho. Gosto de sentir seu amor pelo rebanho que Jesus lhe confiou. Gosto de sua firmeza na fé. Uma rocha, como o nome diz. Gosto de ouvi-lo contar sobre as andanças com Jesus. O povo acha diferente e engraçado esse sotaque nordestino, de galileu, que ele tem. Mas eu adoro o seu jeito de falar...
Os que crêem, aceitam perfeitamente o que ele diz. Os que ainda não se entregaram a Jesus, sorriem, mais para provocá-lo:
- Pedro, conta de novo aquela história do peixe...
- É a mais pura das verdades. Jesus não precisava pagar as duas dracmas, ou meio siclo de prata, pela expiação dos pecados, como manda a Lei. Primeiro, porque não tinha pecado, depois, porque Rei não paga imposto. E Ele é Rei.
- Mas naquele mar cheio de peixes, você jogou o anzol, pescou um e justamente na boca desse estava a moeda, Pedro?
- Estava. E era de um siclo de prata, para pagar o imposto dele e o meu.
- Essa parece história de pescador, Pedro...
- Mas não é. Vocês sabem muito pouco sobre o poder de Jesus.
Meu marido ri, divertido. A sorte deles é que, agora, Simão tem o coração cheio de amor e não se ofende mais, como antigamente. Também não se irrita nem se intimida com o clima de perseguição que existe contra os seguidores de Jesus.
Quanto a mim, às vezes viajo em navios, às vezes a pé. É claro que me canso, pois também não sou mais tão jovem. E continuo lutando com a areia. Mas, agora, não é só a do mar. Enfrento a areia seca dos desertos, que machuca e dói, que entra pelos olhos, pela boca, que gruda na pele, que sufoca e dificulta respirar.
Ninguém registrou meu nome, nem onde nasci, nem de onde vim. E eu entendo porque. Viram em mim apenas a esposa do Pastor. Não perceberam que sou a confidente, a conselheira, o coração compreensivo e amoroso. Viram apenas uma mulher-irmã na fé, uma esposa cristã. Não perceberam que sou a companheira, identificada no mesmo amor e na mesma esperança. Mas isso não tem mais importância agora. O que importa é que acompanhei muito de perto os fatos que envolveram Simão Pedro. Eu também vi e vivi muitas experiências que preciso contar. Eu também creio em Jesus, o Filho de Deus. Eu também recebi o dom do Espirito Santo. Eu também preciso ser testemunha, tanto em Jerusalém, como na Judéia, na Samaria e até os confins da Terra...