sábado, 12 de janeiro de 2008

ABIGAIL

I Samuel 25

Este é um capítulo muito importante na história do povo de Israel e na vida de Davi, futuro Rei. Nele está destacado o papel decisivo exercido por uma grande mulher.
O versículo primeiro parece que está deslocado no capítulo. Ele faz referência à morte de Samuel, o sacerdote, o grande profeta, líder do seu povo. Foi sepultado em Ramá, sua terra natal, conforme registro no capítulo 1.1. E o povo chorou por ele. A morte de Samuel deve ter desorientado Davi. Era através desse grande servo que Deus lhe falava e confirmava a promessa de que seria Rei. Mas as circunstâncias, naquele momento, não davam a ele a menor segurança de que essas promessas se cumpririam. Davi estava vivendo como um fora-da-lei. O Rei Saul comandava pessoalmente a perseguição a ele. Mobilizava milhares de soldados e saía à procura de Davi. Combatia os filisteus, mas seu maior empenho era matar o novo escolhido de Deus para governar Israel. Os fiéis a Davi não chegavam a 1.000 homens. Inferiores em número, ainda lutavam com a falta de recursos e até de alimentos.
No versículo 2 a história toma outro rumo. Surge um novo personagem – Nabal, cujo nome significa insensato. Seria esse, mesmo, o seu nome? Talvez Nabal fosse o seu apelido, depois dos acontecimentos que o capítulo descreve. Acho difícil que o pai e a mãe, nessa família abastada, dessem um nome tão negativo para o filho recém-nascido.
Nabal vivia em Maon e tinha propriedades no Carmelo. Possuía três mil ovelhas e mil cabras. Era, portanto, um fazendeiro rico. Infelizmente, seu temperamento era difícil. Era grosseiro, violento e mau, diz o texto. Mas tinha bom gosto e soube escolher muito bem a sua mulher.
Abigail, ao contrário, se destacava por outros motivos.
O episódio aconteceu na época da tosquia das ovelhas. Deveria ser no verão. O costume era preparar uma grande festa, em que o fazendeiro deveria mostrar-se generoso para com todo o visitante que aparecesse.
Davi e seus companheiros, que estavam nas imediações, tinham oferecido proteção ao rebanho e aos pastores a serviço de Nabal. Seus serviçais confirmaram que os 600 homens de Davi formavam com um muro, ao redor das ovelhas, impedindo que fossem atacadas ou roubadas. Ao saber que Nabal estava em plena tosquia, Davi decidiu pedir uma recompensa pelo trabalho que seus homens fizeram. Estavam com fome e pediram ao fazendeiro o que pudesse oferecer. Nabal tratou os enviados de Davi com o maior desprezo. Disse não o conhecer e se recusou a atender ao pedido.
Por que agiu assim? Só Nabal não conhecia o jovem herói nacional, que havia enfrentado e vencido o gigante Golias, dos filisteus? Só Nabal nunca tinha ouvido falar nele? Só Nabal ignorava porque Davi andava naquelas paragens?
A mim parece que a recusa foi uma forma de se proteger. Evidente que ele sabia quem era Davi. Mas, se fornecesse o alimento e o Rei Saul soubesse, teria de enfrentar a sua ira. E todos sabiam do que o Rei era capaz. Nabal tinha muito a perder e não queria correr riscos. Ainda hoje é assim. Qual o rico que se posiciona contra o governo? Fazem oposição os que não têm o que perder. Rico apoia e mantém os governantes. Nabal era aquele tipo de pessoa que ofereceria apoio e recursos a Davi quando fosse coroado. Antes, não.
Faltou a Nabal sensibilidade política. Se fosse hoje, teria financiado a campanha de Davi, participando de sua investidura, para ter influência junto ao novo Rei.
Davi se irritou com a atitude do fazendeiro. Jovem e impetuoso, ameaçou vingar-se daquele a quem respeitou e serviu. Com quatrocentos guerreiros armados, começou a marchar em direção à fazenda de Nabal, para exterminar todos os homens, dos mais idosos às crianças.
Um dos servos, que presenciou o episódio, contou a Abigail o que estava para acontecer. Ela não perdeu tempo. Sentindo que precisava tomar uma atitude, agiu imediatamente, com sabedoria. Tomou duzentos pães, cinco ovelhas já assadas, vinho, passas de uva e de figo, trigo tostado e foi ao encontro de Davi. É claro que tinha preparado uma festa, mas receber, de repente, um acréscimo de quatrocentas pessoas? Que grande administradora! Que despensa bem abastecida! E não levou tudo, porque, na volta, encontrou o marido no meio de uma grande festa. O que havia ali tinha sido programado e executado sob a sua orientação e supervisão.
Encontrando Davi, com humildade assumiu a culpa da grosseria do marido. Essa é uma atitude bem típica de mulher, assumir a culpa pelo que não fez. Não é isso que fazemos, constantemente? Seu objetivo era proteger as muitas pessoas que seriam atingidas pela vingança de Davi, entre elas Nabal.
E aqui, as palavras de Abigail se relacionam com o início do capítulo. Apela para que Davi não faça justiça com suas próprias mãos, nem as manche com o sangue de inocentes, derramado inutilmente. Para que não sinta remorsos, quando o Senhor o fizer Rei de Israel. Abigail estava falando como Samuel falava. Ela estava confirmando a promessa. Ela estava profetizando em nome do Altíssimo. Ela estava tentando impedir algo que desagradaria profundamente ao Senhor. Por muito menos Saul foi destituído da condição de Rei. Davi estava correndo o mesmo risco, porque iria cometer uma chacina. Seria uma referência triste, má. Não era essa a fama que um Rei deveria buscar. Um imposto, pode ser criado, anulado, recriado, mas vidas não podem ser repostas.
Ele se deu conta do erro que iria fazer. Agradeceu a Deus por ter enviado Abigail ao seu encontro e enalteceu a sabedoria da mulher. Aceitou seus presentes e despediu-a em paz.
Quando ela voltou, a festa não era mais no campo, mas em sua casa. E transcorria conforme tinha planejado e determinado. Da decoração ao cardápio, da fartura ao conforto dos convidados, tudo Abigail previu e providenciou. O marido estava embriagado e ela decidiu esperar até o dia seguinte, para lhe dar conta do que tinha feito. Novamente se conduziu com prudência e sabedoria. Se no caso anterior precisava agir com urgência, agora era preciso aguardar. Naturalmente, ela conhecia o marido e sabia de sua reação.
O que aconteceu com Nabal, quando soube da atitude da mulher, foi conseqüência de seu temperamento explosivo. Não parece um enfarte, ou um derrame cerebral? Dez dias depois, morreu.
Por onde andaria Davi àquelas alturas? Quando soube, mandou emissários a Abigail com um pedido de casamento.
Que sorte para ela, casar com o futuro Rei de Israel, não? Também. Mas sorte mesmo, quem teve foi Davi. Ele precisava ter ao seu lado uma mulher corajosa, forte e dedicada, sábia e prudente, uma administradora competente, uma conselheira capaz de analisar seus ímpetos e impedir atitudes extremas, que o levassem ao arrependimento. Além do mais, sabia quando e como falar e agir, quando e porque calar. Não era impulsiva como ele, mas tinha a paciência de esperar. Em Abigail teria, também, uma mulher de fé, através de quem Deus se manifestava. Ela o inspiraria a se afastar da violência e a promover a paz.
Junto com todas essas qualidades, ainda o complemento das terras, dos servos, das ovelhas, das cabras, da riqueza de Nabal.
E, para completar, uma mulher muito, muito bonita. Teria sido uma senhora Rainha, fina e organizada, à altura da posição do marido. Se como fazendeira fazia banquetes dignos de um Rei, pode-se imaginar o que apresentaria, num palácio. Infelizmente, deslumbrado com o poder, Davi resolveu copiar os outros Reis dos povos ao redor. Tinha um verdadeiro harém, cheio de esposas e concubinas.
Abigail deu um filho a Davi. Foi o segundo, logo depois do primogênito, Amnon. Nasceu em Hebrom. Em II Samuel 3.3, seu nome aparece como Quileade e em I Crônicas 3.1, chama-se Daniel.
Essa é a história de Abigail, a Carmelita.

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