sábado, 12 de janeiro de 2008

LÍDIA

Atos 16

O nome é pequeno, mas pertence a uma grande mulher, cuja ação foi decisiva na expansão da Igreja, no primeiro século da era cristã. A ela Lucas dedicou mais detalhes do que os costumeiros, principalmente em relação às mulheres.
Era natural de Tiatira, cidade da Ásia Menor, próxima a Pérgamo, Esmirna, Sardes e Éfeso, todas da região da Lídia. Seu nome identificava, portanto, o local de origem.
Era vendedora de púrpura. Isso explica a razão de deixar o interior, Tiatira, para viver em Filipos, uma cidade portuária de grande movimento. Veio para a Macedônia para ampliar o seu mercado de trabalho. Era uma mulher de grande visão comercial.
Onde aprendeu a profissão? Seria uma viúva dando continuidade à atividade do marido? O que se destaca é a coragem de assumir um negócio, numa época em que as mulheres não trabalhavam.
Era temente a Deus. Onde teria ouvido falar no Deus único e verdadeiro e decidido ser fiel a Ele?
Apesar das descrições no versículo 14, muitas perguntas sobre ela continuarão sendo feitas, ao longo dos tempos.
Paulo a encontrou na segunda viagem missionária. O plano dele e de seus companheiros era seguir para a Bitínia. Mas os planos de Deus eram outros. Depois de uma visão em Trôade, Paulo, Timóteo, Lucas e Silas se dirigiram para a Macedônia, à cidade de Filipos.
O Apóstolo não encontrou ali uma Sinagoga para pregar aos sábados, como costumava fazer. Talvez não houvesse judeus em número suficiente, para que fosse construído um local próprio, de culto e adoração a Deus.
Mas souberam de um grupo que se reunia junto ao rio. Ao se dirigirem para lá, uma surpresa: mulheres. Iniciar o trabalho evangelístico na Europa falando a mulheres? O que poderia dizer um discípulo de Gamaliel a pessoas tão ignorantes em matéria de religião? Seu papel era falar às lideranças judaicas ou gregas, não a gente comum. Pregar a gentios já era uma tarefa bem diferente e muito difícil, que estava lhe custando incompreensão, perseguições e risco de morte. E agora mais essa, falar a mulheres?
Paulo bem poderia ter procurado outro lugar e outras pessoas mais adequadas ao apelo do jovem por ajuda, na visão. Mas, ao contrário, ele não questionou, nem foi desobediente a mais essa visão celestial.
Ele estava diante de pessoas de fé. Mesmo sem maiores informações sobre cada uma delas, sentou-se e falou. Dedicou-lhes tempo, atenção, conhecimentos e esperança de que cressem em Jesus como seu Salvador. Interessante é que primeiro Paulo as aceitou como ouvintes, depois é que elas aceitaram a Jesus.
Elas creram e foram batizadas.
Comparo o batismo de Lídia ao de Cornélio, em Atos 10.48. Paulo e Pedro estavam diante de fatos surpreendentes, inesperados, imprevisíveis. Embora nenhum dos dois convertidos fizesse parte dos escolhidos por Paulo e Pedro, tanto Lídia como Cornélio estavam nos planos de Deus. Ambos agradaram ao Senhor. As esmolas, as orações e a piedade pessoal do centurião foram percebidas por Deus. A fé sincera e simples da comerciante chegou a Deus. O culto oferecido ao ar livre foi aceito pelo Senhor. A natureza era a catedral onde adoravam a Deus. O som das águas do rio acompanhavam as preces. E o sol acrescentava brilho à pureza e à alegria dos rostos, em louvor ao Criador.
O anúncio de que Cornélio, Lídia e os familiares estavam salvos, veio dos dois maiores apóstolos, dos líderes na evangelização, naquela época. Porque eram pessoas especiais, Deus reservou-lhes um momento especial, nessa hora. A partir da conversão de Cornélio, Pedro mudou sua visão sobre os gentios. E a partir da conversão de Lídia, Paulo mudou sua visão sobre o papel da mulher no cristianismo.
Tenho ouvido falar em Lídia de diferentes maneiras. Alguns dizem que ela era uma empresária próspera, administradora, proprietária de uma fábrica de tecido nobre, usada por imperadores, reis e rainhas. Dizem que, muito provavelmente, as mulheres que a acompanhavam, participando do culto, eram servas, operárias da fábrica. E, se recebeu quatro hóspedes, deveria ter casa grande, com espaço suficiente para isso.
Assim, destacam que o Evangelho era aceito por pessoas de boa situação financeira, e não apenas pelos pobres, pelos despossuídos. Lídia seria, então, um bom exemplo para os ricos, para os que possuem bens.
Também ouvi uma análise, durante a Assembléia Internacional do Dia Mundial de Oração, na Jamaica, em que a atividade de Lídia era humilde e desprezada. O tecido era valioso, mas a fábrica estava situada longe da cidade. Ninguém queria morar na vizinhança, por causa do cheiro desagradável, durante o tingimento. A cor púrpura vem de um caramujo marinho raro, que era triturado. Na composição da tinta e para fixá-la, acrescentavam até urina, o que acentuava o mau cheiro. Os que trabalhavam na fábrica eram pessoas pobres, que não encontravam emprego melhor. Lídia seria, assim, um bom exemplo para os discriminados, para os que lutam pela subsistência, para os que se sacrificam na manutenção dos seus.
Qual dos dois relatos é o verdadeiro? Não sei. Registro os dois, na impossibilidade de decidir.
Rica ou pobre, não importa. Lídia é um bom exemplo para todos nós.
Destaco sua liderança. Além da habilidade para convencer compradores a adquirirem o seu produto, ainda era conhecida pela fé em Deus. E não a guardava para si, mas estimulava amigas e companheiras a seguí-lo.
Destaco a sua fidelidade ao Senhor. Estrangeira e comerciante, poderia ter adotado os deuses dos gregos, para atrair mais vendas e aumentar o lucro. Em vez disso, preferiu integrar a minoria dos que eram fiéis ao Senhor.
Destaco a sua visão de serviço. A ausência de homens para conduzir o culto, poderia ser uma desculpa cômoda e aceitável para cancelar a reunião de oração. Ela deixa claro que o trabalho precisa ser feito. Alguém tem de fazê-lo. É a tarefa de todos os que crêem, homens e mulheres. Homens ou mulheres.
Destaco o alcance do seu trabalho. O comparecimento ao culto, naquele dia, adquiriu uma dimensão muito maior do que a necessidade pessoal de buscar a Deus. Ao converter-se e abrir seu coração para o ensino de Paulo, abriu as portas de sua casa, para hospedá-lo, abriu as portas da Europa e dos confins do mundo de então, para que as boas novas da Salvação fossem anunciadas.
Quantos ouviram! Quantos creram! Quantos foram salvos!

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