sábado, 12 de janeiro de 2008

O CÂNTICO DE MARIA

Lucas 1.39-56

Quantos dias se passaram, desde a anunciação até a chegada de Maria à casa de Isabel? Que sentimentos acompanharam Maria em sua viagem? Que pensamentos passaram pela sua cabeça? Teria tido um sonho, apenas? Teria visto e ouvido mesmo um anjo do Senhor? Teria usado as palavras adequadas em um momento tão importante? Por que não perguntou mais, por que não pediu mais detalhes?
O anjo falou em grandes planos, em restabelecimento do Reino de Israel, através da criança que haveria de nascer. Disse que, para Deus não há impossíveis, em todas as suas promessas. E mencionou Isabel, a parenta que vivia na região montanhosa, em uma cidade de Judá. Maria precisava vê-la, com urgência. Maria precisava falar, contar, compartilhar com ela. Ao chegar, a saudação de Isabel, afastava todas as dúvidas:

- “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto de teu ventre. E de onde me provém que me venha visitar a mãe do meu Senhor? Bem-aventurada a que creu, porque serão cumpridas as palavras que lhe foram ditas da parte do Senhor”.

E ambas compreenderam que só pela vontade do Deus dos Impossíveis poderia ter acontecido a experiência que cada uma vivia, naquele instante: uma gravidez sonhada, esperada ansiosamente e uma gravidez independente de sonhos, do momento próprio, do normal na situação.
Duas gerações, duas mulheres muito diferentes, estão frente a frente: Isabel, a idosa, havia carregado, ao longo da vida, o peso da vergonha e da frustração. Maria, a jovem, tinha planos e sonhos muito diferentes, quanto ao casamento, já próximo. Mas havia um ponto em comum. Ambas tinham sido escolhidas por Deus para integrar o seu plano de salvação. Ambas seriam instrumentos de Deus para realizar as promessas, esperadas havia tantos séculos.
Junto com elas está a prova de que o tempo de Deus é diferente do nosso tempo. Apenas aparentemente o tempo da maternidade de Isabel veio muito depois do esperado. Apenas aparentemente o tempo da maternidade de Maria veio antes do imaginado. Uma e outra receberam sua tarefa no momento próprio, que aprouve a Deus.
Maria, transbordante da graça, entoou o seu Salmo de louvor, o seu cântico de exaltação ao Senhor. Ela exaltou, não apenas o seu Deus, o que olhou para a humildade de sua serva. Ela enalteceu o Deus de seu povo. Ela glorificou o Senhor da História, o Poderoso, o Misericordioso, o que age valorosamente, o que dispersa os soberbos, o que derruba dos tronos os poderosos, o que valoriza os humildes.
Gosto de pensar na vinda de Jesus como uma manifestação do grande amor de deus. Ele está inaugurando uma nova etapa. Ele está usando o seu poder para uma nova criação. Foi um momento muito importante na história da humanidade. O Senhor, que poderia ter enviado um anjo, para realizar a obra da salvação, enviou seu próprio Filho. É a valorização da humanidade. Mas imagino que tenha sido um momento muito importante para Deus, também.
Da primeira vez, Ele modelou os seres a quem entregaria o cuidado e a administração da Terra. O casal que criou foi planejado e moldado segundo a sua sabedoria. E como Ele ficou satisfeito com o resultado! Depois da perfeição criada, em que reuniu e atribuiu funções diversas a ossos, músculos, sangue, inteligência, sentimentos e emoções, era preciso descansar...
Mas agora, o Filho que quer enviar ao mundo vai nascer como suas criaturas nascem.
Seu Filho, que é Eterno como Ele é, experimentaria um começo. Como humano, partiria de um princípio, conheceria desenvolvimento, crescimento em estatura, em sabedoria e graça, diante dele e das pessoas. E, um dia, quando chegasse a sua hora, enfrentaria a morte, como todos os humanos têm de enfrentar.
Seu Filho, que é Espírito como Ele é, teria uma forma, poderia ser visto, ouvido, tocado. Seu Filho teria um corpo e dele sairia poder.
“Poder para evangelizar os pobres, para proclamar libertação aos cativos, para restaurar a vista aos cegos, para por em liberdade os oprimidos, para apregoar o ano aceitável do Senhor”. (Isaías 61).
Seu Filho, que é Onipresente como ele é, ficaria contido, guardado, encerrado, conhecendo os limites do útero materno. Invadindo, se acomodando, ocupando espaço dentro da mãe.
Seu Filho, que é Onipotente como ele é, experimentaria fragilidade e dependência.
Seu Filho, que é a Palavra viva, ficaria silencioso, sem se expressar, descansando, repousando, esperando a sua hora.
Seu Filho, que é Amor como Ele é, seria amado, desejado e esperado, cada dia mais.
Porque Ele quis que o Filho vivesse como suas criaturas vivem. Ele quis que o Filho sentisse as mesmas necessidades e experimentasse as mesmas sensações. Ele quis que as pessoas soubessem que Deus está entre elas, vendo, percebendo, curando, alimentando, abençoando.
E Maria foi a escolhida para trazer ao mundo o Filho de Deus. É também a valorização da mulher, tão discriminada, em posição secundária, na sociedade. É a valorização da serva fiel, que aguarda um sinal de esperança, apesar dos dias difíceis que vive o povo. É a valorização da serva humilde, que se alegra e crê no cumprimento das promessas de Deus. É a valorização da serva obediente, que alcança graça, diante do Senhor, porque aceita a missão para a qual foi escolhida.
E, por isso, todas as gerações a chamam bem-aventurada.

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