sábado, 12 de janeiro de 2008

ANA

I Samuel 1 e 2

Mulher de Elcana, levita, descendente de Coate (I Crônicas 6.22-28 e 33-38). Viveu no século XI AC.
Seu marido tinha boa posição social. O nome da aldeia, Ramataim-Zofim é derivado de sua família. Nesse lugar, muitos séculos antes, morreu Raquel, a esposa amada do patriarca Jacó, que foi estéril durante muito tempo (Gênesis 35.16-19). Elcana era casado com duas mulheres: Ana, que quer dizer graça e peninha, que significa pérola. “Segundo o código de Hamurabi, se a primeira mulher, a amada, fosse estéril, o homem podia casar-se com uma segunda. O mesmo dispositivo conjugal passou para a lei judaica”. Deuteronômio 21.15 .
A família de Elcana era religiosa. Anualmente se dirigia a Siló, 18 Km ao norte de Betel, para adorar e oferecer sacrifícios ao Senhor.
Ana era mulher triste. Tinha um problema muito sério. Sentia uma dor muito grande e forte. Uma dor-companheira, que se acomodou no coração de Ana e machucava e feria, constantemente. Qual era o problema de Ana? Falta de recursos materiais? Não. Falta de amor, no marido? Não. Ana era estéril. Não tinha dado um filho a Elcana.
Os anos foram passando e a dor crescendo. Penina tomou a si o encargo de aumentar o sofrimento de Ana. As lágrimas de Ana eram a sua alegria, representavam a compensação pelo fato de não ser amada. E, então, a dor se transformou em amargura, em angústia, em saturação.
- Não agüento mais! Agora chega! Basta!
Ana vai à Casa do Senhor abre seu coração, fala de sua humilhação e de sua vergonha. E pede uma solução, para Deus.
O que eu mais gosto na oração de Ana:
A compreensão de que só Deus poderia resolver o problema. A confiança no Seu poder. A humildade do pedido, que não queria a destruição da rival. A ausência de egoísmo; prometeu que entregaria o filho para o serviço do Senhor. A forma de orar; silenciosamente. Ninguém mais, além de Deus, ouviu sua oração.
Depois disso, houve uma transformação em Ana. Entregou o problema, confiou, esperou. E seu rosto não era mais triste.
Ana teve o filho que pediu a Deus. Samuel nasceu no ano de 1090 AC. Durante os três ou quatro anos seguintes, enquanto Samuel crescia, Ana cresceu também, espiritualmente. Substituiu o sofrimento pelo louvor. E, se o pedido foi silencioso, o louvor foi em voz alta, para que todos ouvissem. O cântico de Ana é comparado ao de Miriam e Débora. E Maria, mãe de Jesus, deve ter se inspirado nele, pois usa expressões semelhantes em seu cântico. (Lucas 1.46-55).
Ana expressa gratidão a Deus. Em seu salmo usa linguagem profética, se referindo à vinda de Cristo. E sua vitória é vitória do Senhor, o Deus até do impossível. Ana tem agora uma nova visão. O seu Deus é o Deus vivo e poderoso, que ouve, se compadece, atende, transforma problemas em vitórias. Que tem um plano para suas criaturas.
Tenho certeza de que Ana aprendeu também que esperou demais para orar. Deixou que a dor se avolumasse. Permitiu que a rival a torturasse. Não valorizou o amor do marido, que era, afinal, a valorização dela mesma, como pessoa.
Ana sufocou um talento, concentrada na grande frustração de sua vida. Desperdiçou sua inteligência, sua sensibilidade, fé. Era uma poetisa e não sabia. Poderia ter composto um livro de salmos. Havia tanto amor dentro dela, para ser repartido...
Quantas mulheres, em nossos dias, enfrentam a mesma situação de Ana? Milhares, pois as estatísticas demonstram que em cada cem casais, 10% não têm filhos, em função do equilíbrio ecológico. Em metade dos casos o problema é do homem. Na outra metade, da mulher. Por que sofrer, então? Será que a principal função do ser humano é procriar? Não há nada mais que traga alegria, na vida? Nada mais merece esforço? Será a mulher apenas útero? Serão os filhos garantia de felicidade? Penina, tão fértil, não conseguiu ser amada como Ana.
Ana teve seu pedido satisfeito. Além de Samuel, teve mais três filhos e duas filhas: seis ao todo (I Samuel 2.21). O mais velho foi líder nacional, comparado a Moisés, pois libertou Israel espiritualmente e renovou a esperança do povo.
E se a vontade de Deus fosse outra, havia necessidade de Ana ser infeliz? Ou sentir-se envergonhada, humilhada?
A experiência de Ana nos leva a pensar em:
A mulher e suas frustrações. Analise os condicionamentos a que estamos presas e que sufocam o que de melhor existe em nós. Com que outros tipos de frustrações nos acostumamos a conviver? É possível libertar-se dessas frustrações? Seu peso não estará ligado a preconceitos?
A insatisfação de Ana não estaria relacionada com a falta de objetivos para a vida? Ela não poderia ter tornado a sua vida frutífera de outras maneiras?
A mulher sem filhos: como ajudar mulheres curvadas sob esse peso? Nossa programação do “Dia das Mães”, por exemplo, alivia ou acentua essa frustração? Como podemos eliminar a discriminação que ela sofre?
A adoção: não será essa uma forma de enriquecer a experiência de casais com e sem filhos, colaborando, ao mesmo tempo, para ampliar as oportunidades de crianças carentes?

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