sábado, 12 de janeiro de 2008

A MULHER SAMARITANA

João 4.1-43

A presença de Jesus na Samaria diz muito mais do que, à primeira vista, se possa captar. O costume da época era não passar pela Samaria. Os judeus atravessavam o Jordão, no caminho entre a Judéia e a Galiléia, para não pisar em território samaritano.
E Jesus fez isso também, no início do seu ministério, quando veio de Nazaré para receber no batismo de João, a confirmação de Deus como Filho amado, enviado para uma grande missão, e para afirmar, no deserto, sua disposição para assumi-la.
É pela outra margem do Jordão, também, que volta à Galiléia e faz seu primeiro milagre em público, num casamento, em Caná. (A insistência de Maria, sua mãe, para que solucione o problema da falta de vinho, me leva a crer que Jesus já tivesse feito isso anteriormente, entre os seus. E muito mais, talvez. Ela sabia do seu poder.) Dali viaja a Cafarnaum e, na Páscoa, está em Jerusalém. Fica algum tempo na Judéia e, ao voltar para o norte, tem o encontro com a samaritana, junto ao poço de Sicar.
É meio-dia, o lugar está deserto, Não é a hora preferida para abastecer cântaros. As mulheres daquela cidade costumavam vir pela manhã, cedinho. Por que aquela mulher saiu de casa, justamente na hora mais quente do dia, quando o sol estava a pino? Certamente, queria se poupar da rejeição das outras.
Jesus, contrariando um costume da época, fala à mulher e lhe pede água. Ela manifesta seu espanto. Um judeu jamais dirigiria a palavra a uma mulher, muito menos a uma samaritana e, ainda menos, lhe pediria algo, fosse o que fosse. Os samaritanos eram odiados pelos judeus. E a recíproca era verdadeira. Para os rabinos, os samaritanos eram orgulhosos e arrogantes (Isaías 9.9), corruptos e iníquos (Ezequiel 16.46 e 47, Oséias 7.1, Amós 3.9 e 10), idólatras (Ezequiel 23.4, Amós 8.14 e Miquéias 1.5 a 7). Jesus está ali para muito mais do que descansar, refrescar-se ou saciar a sede. Está ali para redimir a mulher de seus pecados e o povo da Samaria do preconceito que pesa sobre ele.
A referência aos cinco maridos terá relação também com a gente das cinco cidades pagãs que o rei da Assíria mandou vir para a Samaria, no ano de 721 AC? Samaria era, então, capital do Reino do Norte e havia caído em poder dos assírios, depois de um cerco de três meses (II Reis 17.1-6). A causa do cativeiro fora a infidelidade de Israel, que adotou os costumes e as religiões dos povos ao redor. Por influência dos estrangeiros, fabricou ídolos, aos quais serviu e adorou. A infidelidade dos samaritanos ao Deus único e verdadeiro era imperdoável aos olhos dos judeus e, porisso, estavam proibidos de adorar em Jerusalém.
Jesus quer libertar seus irmãos da Samaria e começa libertando uma mulher vulgar, de má fama. Dá a ela uma das lições mais profundas que ministrou. E note-se que, segundo o costume da época, “era preferível queimar a Torá a ensiná-la a uma mulher”.
Revela-se a ela como o Cristo, o Messias prometido e tão esperado. De Jesus não parte condenação para a mulher. Mostra apenas que conhece a sua vida e sabe do seu passado. Não está ali para destacar o pecado, mas para libertá-la. Percebe que seus gracejos e evasivas são defesa diante da rejeição que sofre por parte das outras pessoas. À medida em que o diálogo se desenvolve, o tratamento desrespeitoso vai se modificando: judeu, Senhor, Profeta, Cristo.
Jesus sente a sede que ela tem de um outro objetivo para a vida, além do de tentar agradar homens com o seu corpo. Sabe que ela, dada à situação de inferioridade da mulher, desde aquela época, teve seis proprietários, seis donos e senhores de sua vida, com todos os poderes sobre ela.
O moralismo de uns torna essa mulher desprezível. A fantasia de outros, imagina que ela possui uma vida rica, excitante, onde a rotina e a monotonia não existem. A hipocrisia dos que a procuravam fazia dela uma pessoa socialmente inaceitável. A imaginação de outros via nela promessa de realizações e de prazer. Se ela vivesse em nossa época, estaria facilmente desfilando seu know-how em entrevistas, falando de suas experiências, de suas preferências, de seus métodos...
Jesus compreende, no entanto, que como pessoa, ela não está à beira de um poço, mas no fundo dele. E estende a mão, para trazê-la de volta à vida.
Gosto da reação dessa mulher. O cântaro e a água, os objetivos que a trouxeram ali, são abandonados e esquecidos. Ela sai a anunciar a boa nova da presença de Cristo naquele lugar. E, pelo testemunho dela, muitos creram. Os pecados foram perdoados e as diferenças foram esquecidas. Jesus foi aceito como o Salvador e, convidado a ficar, permaneceu com os samaritanos por dois dias.
Essa visita de Jesus preparou o trabalho de Filipe entre os samaritanos, alguns anos mais tarde, depois do martírio de Estevão. (Atos 8.1-8). As boas novas que veio anunciar trouxeram grande alegria aos habitantes daquela região. E os sinais que Filipe realizava, em nome do Cristo que eles conheceram e que os libertou, fizeram tal sucesso, ajudaram a converter tantos, que Pedro e João deixaram Jerusalém para ver o que acontecia por lá. (Atos 8.14-25).
E tudo começou com a atenção que Jesus deu a uma mulher que não merecia atenção...
Ele a transformou em evangelista, em anunciadora das boas novas da salvação.
“mas recebereis poder, ao descer sobre vós o Espírito Santo e sereis minhas testemunhas, tanto em Jerusalém, como em toda a Judéia e Samaria, até os confins da terra”. Atos 1.8
A partir desse estudo, gostaria que o grupo analisasse o seguinte:
- A valorização da mulher como pessoa e não como objeto de cama e mesa.
- A exploração do corpo feminino nas propagandas, mesmo naquelas em que a mulher não está envolvida diretamente.
O que fazer? Protestar junto às autoridades, seria fornecer elementos para que o Estado exerça censura. Que pode se estender da repreensão aos costumes à repressão política em jornais, revistas e manifestações artísticas em todos os níveis. Nosso protesto não poderia se dirigir às emissoras de TV e aos patrocinadores dos programas, que prosperam em razão da audiência?
- O preconceito como barreira no relacionamento com Deus, que não faz acepção de pessoas, pois criou a todas com muito amor. (Deuteronômio 10.17 – Atos 10.34 – I João 4.20).
- O preconceito como barreira no relacionamento com o nosso semelhante. Como limitação e empobrecimento no convívio social e como agressão à dignidade humana.
- O preconceito como pecado. (Tiago 2.1-9).
- O preconceito cultivado contra e a partir dos samaritanos não seria tão imoral quanto o comportamento daquela mulher?
- Jesus combateu o preconceito aos samaritanos em uma parábola que destaca os marginalizados. Lucas 10.25-37.
- Enumere alguns tipos de discriminação que precisam ser eliminados entre nós. Por exemplo: entre a pobre e a rica, entre a mais jovem e a mais idosa, entre a bem casada e a solteira, ou viúva, ou divorciada, entre a que estudou e a que não teve essa oportunidade, entre a que tem filhos e a que não os teve, etc. Entre os crentes e os que exercem atividade política também...
- Sempre é tempo de derrubar toda e qualquer barreira nos relacionamentos. É só começar.

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